impecáveis trajes orientais. Duas ou três vezes, inspirado pela voz do meu
sangue, levara as lentes da minha atenção sobre o pseudomuçulmano.
— Ali está ele — acudiu Dudeney, já impaciente, meio nervoso. —
Repara!
O suspeitoso xeque, cujo rosto a máscara preta velava, aproximara-se
vagaroso e ficara imóvel ao lado de um grande espelho, os braços cruzados,
numa atitude discreta e nobre. Um albornoz de seda clara repousava-lhe
comodamente sobre os ombros fortes. Cobria-lhe a cabeça belo kafié^1 branco
com listras azuis, preso na altura da testa por finíssimo agal trançado de ouro
e prata. Apertava-lhe a cintura uma faixa azul de onde pendia riquíssima
espada toda cravejada de marfim.
— Sinto-me indeciso — tornou Dudeney. — Não sei o que devo fazer.
Aquele homem tem um ar misterioso. Pretende passar por um árabe
autêntico, pois na lista dos convidados é indicado por um nome tipicamente
islamita. Repara, meu caro Hank. O nosso hóspede não conversa, só fala o
árabe; não bebe; não dança; caminha de um lado para o outro observando
com cuidado especial as damas mais formosas. A presença de um
aventureiro iria empanar o brilho desta festa. O xeque da faixa azul será um
árabe de verdade?
— Ser ou não ser, meu caro Hamlet — respondi, parodiando
Shakespeare —, ser ou não ser! Vou apurar a verdade e deslindar todo esse
mistério.
Acerquei-me do xeque, saudei-o muito amável e disse-lhe em puro
idoma árabe:
— Hal lazem lak chay? (Deseja alguma coisa?)
Respondeu-me em tom delicado com um sorriso fino, exprimindo-se
com absoluta correção:
— Mannoum! Ma lazem li chay. (Obrigado! Nada desejo no momento.)
Convidei-o cordialmente a ir comigo até a biblioteca. Ficamos sós, e o
xeque, num gesto de apurada elegância, arrancou a máscara que lhe cobria o
rosto. Notei que se tratava de um homem relativamente moço e simpático.
E, sem preâmbulos, assim falou: