— Percebi que minha presença nesta reunião carnavalesca despertou
suspeita em Mr. Dudeney. E com toda a razão. No meio da brilhante
sociedade que aqui se recebe, sob este acolhedor palácio, sou eu o único,
digo-o com certa vaidade, que não se acha fantasiado.
— Como assim?
— Nada mais claro. Estes trajes com que me apresento diante dos
convivas de Mr. Dudeney são aqueles que eu costumo vestir, nos dias de
gala, quando em minha tenda, para além de Dareyn,^2 recebo os xeques
amigos para festejar o aniversário do Profeta ou o término do Ramadã. A
roupa que ostento não é, pois, uma fantasia como julgam. É uma realidade.
— O senhor é, então, um xeque de verdade?
— Até onde esse título pode honrar um homem. O meu nome é Hassan
el-Bourini ibn-Taufiq. Sou natural de Cham, mas tenho propriedades até
em Tell Abou Jezid, onde as tâmaras são menos abundantes do que as
lendas.
Interroguei-o mais uma vez com intransitiva curiosidade:
— E veio a esta festa especialmente para admirar a alta sociedade de
Londres?
— De forma alguma — discordou, em tom muito grave, o xeque. — A
minha presença nesta encantadora reunião tem um fim todo especial, um
objetivo bem estranho: descobrir o paradeiro de uma joia roubada. Cabe-
me, neste baile, entre serpentinas e canções brejeiras, realizar uma tarefa de
caráter rigorosamente policial.
A intempestiva declaração do xeque caiu sobre mim como uma bola de
ferro sobre um copo de cristal. Sentia-me despedaçado. Observei muito
sério:
— Sou amigo íntimo de Mr. James Dudeney. Peço-lhe, portanto, meu
caro xeque Hassan el-Bourini ibn-Taufiq, que esclareça todos os pontos
obscuros desse mistério. Asseguro-lhe, sob palavra, que se a justiça do caso
estiver do seu lado, o senhor terá completo apoio neste palácio. A joia
roubada será apreendida e o criminoso entregue à polícia.