Depois de acender lentamente o seu cigarro, o xeque, ao cabo de breve
pausa, narrou-me o seguinte:
— Quando cheguei a esta capital, vindo de Damasco, fui apresentado a
uma certa sra. Hopkins, esposa de opulento industrial de Manchester. Vendi
a essa senhora, por solicitação de um joalheiro sírio, precioso colar de
pérolas no valor de 1.500 libras. Recebi anteontem chamado urgente da sra.
Hopkins. Fui procurá-la e encontrei-a enferma em consequência de um
abalo cardíaco. Contou-me a boa senhora que o colar, por mim vendido
duas semanas antes, havia sido roubado. Perguntei-lhe se havia levado o caso
ao conhecimento das autoridades. “Nada fiz nesse sentido”, respondeu-me.
“Meu marido, por motivos políticos, quer evitar o escândalo. O colar foi
roubado a uma de minhas filhas.” E a sra. Hopkins inquiriu-me aflita: “O
senhor seria capaz de reconhecer o colar roubado?” Declarei que poderia
apontá-lo no meio de mil. Aquelas pérolas de um colorido especial, azul-
poente, eram inconfundíveis. Eu as tivera em minhas mãos durante mais de
dez anos! “Pois bem”, tornou a sra. Hopkins. “Tenho certeza de que a pessoa
autora do furto irá ao baile, no palácio de Mr. Dudeney, com o meu colar. Já
fiz com que todas as pessoas de minhas relações fossem avisadas de que me
encontro impossibilitada de sair. Obterei para o senhor um convite para essa
reunião. É um grande favor que lhe peço. Compareça fantasiado a essa festa
e investigue; observe tudo. O meu colar estará presente e será facilmente
encontrado!”
O xeque fez ligeira pausa e logo retomou o fio da narrativa:
— Aqui vim, portanto, em atenção ao pedido da sra. Hopkins. Longa e
cuidadosa foi a investigação a que procedi. A princípio temi fracassar.
Revestido de muita força de ânimo, não me deixei envolver pela onda desta
perdulária alegria. Aproximava-me das damas não para admirar a beleza dos
olhos, a alvura dos braços bem torneados, mas sim para apurar a
legitimidade dos colares e certificar-me do colorido das pérolas.
— E conseguiu descobrir o colar da sra. Hopkins? — indaguei num
ímpeto.
— Sim — confirmou serenamente o xeque. — Já o encontrei. Enfeita o
gracioso pescoço de uma das jovens mais bem fantasiadas...