— A bela Cleópatra?
— De forma alguma. Essa “egípcia” formosa apresenta-se com três
colares, é verdade, mas todos três mais falsos do que os antigos deuses dos
faraós. Certifiquei-me de que o colar da sra. Hopkins está com uma graciosa
princesa hindu...
— A princesa do turbante cor-de-rosa?
— Precisamente. Deve ser esposa de riquíssimo marajá, pois carrega na
testa uma estrela de rubis do Oriente.
A situação devia ser enfrentada com a maior serenidade. A dama (a
princesa hindu, do turbante cor-de-rosa), acusada tão gravemente pelo
xeque, era a própria esposa de meu amigo James Dudeney, o dono da festa.
Disse, pois, um tanto desconcertado, ao xeque Hassan ibn-Taufiq:
— Esse caso será esclarecido. Precisamos, porém, agir com a máxima
delicadeza. Se a sua denúncia tiver o cunho da verdade, o colar será
apreendido e, dentro de 24 horas, restituído à sua dona legítima. Peço-lhe
mil desculpas.
Redarguiu o xeque:
— Diante de sua declaração, nada mais tenho a dizer. Dou por finda a
minha espinhosa missão nessa casa tão alegre e acolhedora. Vou partir
imediatamente. Queira apresentar a Mrs. e Mr. Dudeney as minhas
homenagens e os meus agradecimentos. Uassalã!^3
Conduzi o ilustre xeque até a porta do palácio e observei ainda quando
ele tomou o carro que o devia levar até o hotel.
Ao voltar, esbarrei, na escada, com o animadíssimo Dudeney.
— E então? — interrogou-me, tomando-me pelo braço. — Que
pretendia o xeque?
— Nada — respondi, improvisando uma mentira qualquer. — Um
sonhador! Queria descobrir aqui, no meio dos nossos convidados, uma
odalisca que ele conhecera, casualmente, no palácio do sultão em Istambul!
Dudeney argumentou, agitando os punhos:
— Logo vi! Uma fantasia do xeque!