Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

Reza a lenda que no vale estreito, que as águas do Szira cobrem
atualmente, existia, outrora, próspera e rica cidade habitada pelos tártaros
Ouigur — povo guerreiro que chegou a dominar grande parte da Ásia
Central. Em suntuoso templo dessa rica metrópole encontrava-se, sob
grande laje, sepultado o corpo de Almagor, o último rei Ouigur.


Quis o destino que os mongóis de Gengis Khan invadissem os domínios
de Almagor. Atacada pelo poderoso inimigo, a cidade foi facilmente vencida
e saqueada. Os bárbaros conquistadores massacraram os homens e
escravizaram as mulheres.


No dia em que a cidade caiu em poder dos mongóis, rompeu-se, como
por encanto, a pedra que cobria o túmulo do rei Almagor. A sombra
imponente desse monarca surgiu e fez-se ouvir, lúgubre, impressionante a
sua voz:


— Chorai, ó mulheres tártaras! Chorai lágrimas salgadas de aflição e
desespero! Chegou o último dia do povo Ouigur!


Sensibilizadas com as palavras do rei tão querido, que o amor à pátria
fizera erguer da tumba, as mulheres puseram-se a chorar. E prantearam suas
amarguras, dia e noite, sem descanso. Ordenaram os vencedores que elas
dessem fim àquelas lamentações aflitivas. As mulheres de Ouigur, porém,
não atenderam à intimação dos tiranos e continuaram com seus gemidos e
soluços. Era ordem do rei Almagor, e que faziam elas senão obedecer ao rei?


Os guerreiros de Gengis Khan, exasperados com aquelas lamúrias
intermináveis e impelidos por indomável furor sanguinário, degolaram, sem
piedade, todas as prisioneiras. As infelizes escravas, porém, mesmo depois de
mortas, continuaram a chorar incessantemente, e as suas lágrimas ardentes e
abundantes, em gotas e gotas sem fim, formaram caudalosa corrente. Esse
rio de prantos invadiu o vale, submergindo jardins, palácios e mesquitas
luxuosas.


Surgiu, assim, formado pelas lágrimas das inditosas esposas tártaras, o
lago de Szira, em cujo seio dorme, para sempre, a cidade de Almagor.


E ainda hoje (afirmam os menos incrédulos) o viajante que se aproxima,
no silêncio da noite, das margens do famoso lago ouve o eco de estranho

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