reserva o destino? A sorte, a boa sorte, premiará aquele que acolheu o
menino, ou cobrirá de benefícios o companheiro que preferiu o camelo? A
bolsa trará plena felicidade para o seu novo dono?”
Inclinando o rosto gracioso para trás, a jovem indagou, num murmúrio,
com afetada meiguice:
— Os três beduínos se reuniram? Cumpriram a promessa?
Acudiu logo o galanteador:
— Sim, querida, reuniram-se vinte anos depois naquele mesmo local e
no dia combinado. E verificaram ter ocorrido algo de espantoso, incrível...
Percebi, nesse momento, que o dr. Wadi Bechalani concluía a magnífica e
impecável lição sobre o tê em árabe. Deixou cair dentro da caixa (como
fazia, aliás, todos os dias) o pedacinho de giz, tomou nas mãos a lista da
classe e preparou-se para iniciar os exercícios orais. Passeou com os olhos,
de alto a baixo, a relação dos alunos e chamou um deles ao acaso:
— Hamid Karã Jafet!
Todas as atenções convergiram para o rapaz conversador que se achava ao
meu lado. Como é caprichoso o destino! Exatamente aquele estouvado que
não ouvira uma palavra da lição, e que estivera, todo o tempo, a derreter-se
com a moreninha, era chamado para a arguição de rotina no quadro-negro.
Hamid Karã Jafet ergueu-se, meio contrariado, e encaminhou-se com a
tranquila resignação de jovem disciplinado para a mesa do professor. Notei-
lhe na testa uma ruga em forma de tê-longo. Era a ruga do mau humor!
— Meu caro Jafet — disse-lhe, bondoso, o dr. Bechalani, ajeitando os
óculos. — Vamos fazer alguns exercícios de recapitulação. Escreva aí, no
quadro, as seguintes palavras que vou ditar: iatim (órfão); chafaca (bondade);
saada (servir); mustacbal (futuro); yazá (recompensa).*
Passou na sala um breve silêncio.
Tive ímpetos de me levantar e dirigir, com escândalo, para toda a classe,
um apelo veemente ao nosso querido professor de árabe: “Ora, professor,
por que chamou esse aluno? Dispense-o, por hoje, da arguição no quadro!