Treze, sexta-feira
Tu és formosa, amiga minha! Em ti não há mácula.
Salomão, Cantares, 4, 7.
Encontrei-a, casualmente, durante uma reunião de pintores e jornalistas no
velho castelo do conde Sichler. Era alta, morena, cabelos castanhos e olhos
babilônicos. O tom de sua voz maviosa, sem artifícios, era tão doce que dava
a impressão de veludo azul na capa de um Alcorão. Não sei a que propósito
repontou, no meio de nossa palestra, tão simples e despretensiosa, a palavra
mágica: superstição.
— E, por falar em superstição — atalhou Lenora (o seu nome, esquecia-
me de dizer, era Lenora) —, quero felicitar-te pelo teu conto “Treze, sexta-
feira”. Aponto-o como um dos mais originais do gênero folclórico.
Treze, sexta-feira? Minha talentosa e encantadora amiga estava, com
certeza, nas malhas perigosas de um equívoco. Não me recordava, em
absoluto, de ter escrito aquele conto que ela (pintora modernista de mérito
incontestável) sublinhava com as tintas elogiosas de sua enaltecedora
apreciação. Ocorrem, muitas vezes, com as pessoas que leem e estudam ao
mesmo tempo 1.020 assuntos diversos (era esse, precisamente, o caso de
Lenora), certas confusões literárias, e elas acabam por atribuir ao poeta X