vida de um bom suqué deviam ser iniciados com o pé direito. Sempre com
o pé direito, pelo lado direito. A superstição máxima do povo era relativa ao
número treze. “Que treze?”, estranhou o rei Nezigã. “Que tem esse número
com a vida de meus súditos?” Um ministro bajulador e loquaz informou,
logo, ao crédulo monarca: “A gente inculta desta boa terra acredita na ação
maléfica do número treze. Esse número é apontado como a conta mais
funesta entre todas as contas. Treze é sinônimo de desgraça, de doenças
graves, de morte. Reunião de treze pessoas acaba em luto e desesperação.
Escada com treze degraus é queda inevitável. Casa com treze janelas, roupa
com treze botões, caravana com treze camelos, carta com treze linhas, frases
com treze palavras, horta com treze melancias, tudo, enfim, que some treze
deve ser evitado. O treze é sinal de luto; é número azarento, calamitoso!”
Nesse ponto, o rei Nezigã interrompeu o seu vizir informante e indagou: “E
o dia treze? Entra esse dia na contagem funesta do meu povo?” Esboçando
nos lábios o veneno de um sorriso irônico, o vizir bajulador respondeu:
“Cumpre-me dizer, ó rei, que é essa a superstição mais séria dos suqués.
Quando acontece de o dia treze cair numa sexta-feira, dupla crendice, o
povo fica alarmado. Dia treze, sexta-feira, em Timbuctu, é dia de luto
nacional. Cessa toda a atividade. Os pescadores recolhem seus barcos; os
caravaneiros fecham-se em suas tendas; os carregadores de sal deixam-se
ficar, como dervixes mendicantes, debaixo das árvores, olhando assustados
para as nuvens cinzentas debruadas de ouro que rolam pelo céu. É um dia
perdido para a vida da cidade.” Aquela crendice relativa ao dia treze irritou o
soberano sudanês. Era um absurdo, um exagero. “Acabemos com tais
superstições”, arrematou o monarca com voz surda. “É preciso convencer o
povo de que o dia treze, seja sexta-feira, sábado ou domingo, é um dia como
outro qualquer do calendário.” Decorridas poucas semanas, verificou-se a
coincidência: as folhinhas assinalavam TREZE, sexta-feira! Nesse dia, pela
manhã, o rei Nezigã reuniu seus vizires e declarou enfaticamente que ia
festejar, com incomparável pompa, o dia treze. Majestoso cortejo — no qual
figuraram treze elefantes ricamente ajaezados e treze carros adereçados com
flores e bandeiras — desfilou pelas ruas. Os elefantes conduziam o rei
Nezigã e sua corte: ministros, oficiais doutores, juízes e embaixadores; nos
carros iam músicos, palhaços, faquires e encantadores de serpentes. Por
determinação de Sua Majestade, as casas deviam ficar abertas e o povo era
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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