convidado a assistir ao aparatoso desfile. Logo, em meio da marcha festiva, o
rei Nezigã, do alto de seu pesadíssimo elefante, observou que havia, na praça
principal, uma casa inteiramente fechada. “Quem mora ali?”, inquiriu o rei,
dirigindo-se a seu ajudante de ordens. O interrogado prontamente
informou: “Reside naquela casa um sujeito chamado Talig Mospel, rico
negociante de sal. Recusou-se a tomar parte na festa por ser hoje dia treze e
sexta-feira. Alegou que tem medo de azar e que prefere ficar fechado em
casa, numa sala escura, rezando.” Enfureceu-se o rei ao ouvir aquela
informação: “Esse mercador de sal não passa de um ignorante. Faremos obra
altamente meritória arrancando do espírito desse homem essas crendices
idiotas. Determino que ele seja trazido à minha presença.” A ordem foi logo
transmitida ao corpo da Guarda Roxa — uma espécie de polícia especial de
Timbuctu. Que fizeram os homens da Guarda Roxa? O rei pediu dois e eles
completaram duzentos. Arrombaram as portas do prédio em que morava o
honrado mercador, arrebentaram as janelas, partiram os móveis, agrediram
os moradores e prenderam o dono da casa, que, afinal, já ferido, meio
aparvalhado, com as vestes em frangalhos, foi levado à presença do rei.
Desceu o monarca de seu elefante e veio ao encontro do preso. “Meu amigo
Talig Mospel”, disse-lhe com vaidosa entonação, “queria apenas aconselhá-
lo a deixar essas superstições grosseiras que denotam ignorância e atraso. O
dia treze — convença-se da verdade — é um dia como outro qualquer.” O
pobre homem ajoelhou-se diante do rei e, depois de beijar a terra entre as
mãos, assim falou, com voz desolada e um pasmo idiota na face: “Como
poderei, ó rei, convencer-me de uma coisa que os próprios fatos
desmentem? Como negar a evidência sob a luz da verdade? Logo hoje,
precisamente hoje, por ser treze, sexta-feira, o negro azar foi cair sobre mim.
Minha casa foi assaltada, meus filhos espancados e eu, ferido e injuriado, sou
arrastado pela rua como se fosse um criminoso da pior espécie. E isto tudo
por quê? Por ser aziago e funesto o dia treze, sexta-feira!” Não encontrou o
rei Nezigã, o Calmo, palavras que pudessem justificar as violências
praticadas contra o honrado mercador de sal. Arrependeu-se de ter
promovido aquela passeata ridícula com faquires e encantadores de
serpentes. Mandou dissolver o cortejo e, abatido pelo fracasso de sua infeliz
iniciativa, voltou para o palácio. Figurava, porém, entre os vizires do rei, um
certo Kahn Tazuk, homem judicioso e sábio. Ao notar a tristeza e o
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1