Neste ponto da narrativa, depois de ligeira pausa, Lenora acrescentou,
ajeitando com graça os cabelos ondeados:
— Não me lembro mais do final de teu conto. Confesso que não me
lembro. Sei apenas que o tal ministro Kahn Tazuk citava, a respeito do caso,
um provérbio árabe que ia servir como chave de ouro para a triste aventura
do supersticioso rei de Timbuctu.
— Pois minha encantadora amiga — repliquei, sincera e
admirativamente emocionado. — Essa aventura do rei Nezigã, o Calmo,
parece-me interessante e apresenta alguns traços de originalidade. Encerra
ensinamentos notáveis; envolve vários temas folclóricos; leva o leitor para
um país exótico (o Sudão) e apresenta-o aos suqués, povo mais exótico
ainda. Sinto-me, entretanto, forçado a confessar a verdade. Esse conto que
acabo de ouvir, enlevado, não é meu. Acredite, minha incomparável
Scherazade do século XX! Acredite. Jamais escrevi essa aventura intitulada
“Treze, sexta-feira”.
Fitou-me Lenora, muito séria, e, num tom mavioso, misto de zanga,
gentileza e sedução, declarou numa doce intimativa:
— Pois se não era teu, meu caro xeque, se não era teu, fica sendo!
Em submissa admiração, agradeci comovido.
E tive ímpetos de repetir, bem alto, em árabe bem puro, os versos
deliciosos que ouvi uma tarde, em Damasco, de um velho beduíno:
“Louvado seja Alá, que fez a Mulher com toda a sua Bondade, com toda a
sua Beleza e com toda a sua Alma generosa e simples!”
Alá seja louvado!