A 28 de abril de 1969, Salazar festeja 80 anos. No País, há greves, manifestações, lutas por
liberdades. Dentro de casa, o ditador sopra as velas de um tempo que se apaga, rodeado de amigas e
das criadas. Rosália é a segunda a contar da direita, atrás, de blusa branca.
Em Portugal, caiu o silêncio, a penumbra, sobre a vida política e pública do
ditador. Nos últimos meses, os bastidores ainda haviam registado enredos e
polémicas envolvendo salazaristas e figuras da nova fornada de governantes,
mas a intensidade dos folhetins amainara.
Só as intrigas em torno do acompanhamento médico continuam encrespadas.
A rutura entre clínicos divide ministros, arrasta o chefe do Estado, gera
trincheiras. Eduardo Coelho é acusado de «sequestrar» Salazar. Este defende-
se, diz ser o contrário: ele é que está sequestrado pelo regime. Os ministros têm
entrada franca em São Bento, continuam a ser autorizadas visitas pessoais com
dia e hora marcada, com exceção da equipa de cirurgiões que acompanhara
Salazar na Cruz Vermelha, impedida por Eduardo Coelho.
O médico queixa-se de censuras ao seu trabalho e à divulgação pública da
evolução do estado de saúde do ditador, que já nada dita. Os jornais chegam a