portuguesa radicada na outra margem do Atlântico.
Tarefa complicada.
Na verdade, ela recebera a informação de que o antigo Presidente do
Conselho estaria inacessível, quase sequestrado dentro da sua própria casa,
talvez «a bem da Nação».
Era já datada de 31 de agosto a última fotografia da sua vida política
aparecida na imprensa quando, no Estoril, recebera um grupo de professoras.
Desde então, Salazar fora visto apenas mais uma vez em público a 26 de
outubro de 1969, simulacro de eleições gerais convocadas pela ditadura,
embora com a participação, pela primeira vez, de três listas ligadas à oposição.
Nem sequer saíra do seu automóvel. A governanta e uma enfermeira
acompanham-no nesse dia à Rua da Bela Vista, na freguesia da Lapa, em
Lisboa, mas é a urna a ir ter com o doente ao carro, levada pelo presidente da
mesa e fiscalizada por elementos da oposição.
Salazar vota, observado por alguns eleitores e curiosos concentrados no
local, que lhe tributam um discreto aplauso.
Ele agradece, acenando.
Américo Tomás, Presidente da República, tentara a todo o custo evitar a
cena. Por ele, Salazar teria ficado em casa e, com esse propósito, terá mesmo
incumbido Silva Pais, diretor da PIDE, da missão «melindrosa» de convencer a
governanta a resguardar o velho doente.
Mas Maria e algumas senhoras amigas de Salazar fazem orelhas moucas à
sugestão e, com a concordância do próprio, decidem que ele sairia de casa para
votar.
Desde esse dia que Salazar continuara resguardado na residência oficial,
quase sem vontade própria e privado de visitas, cuja ausência estranha. A 19 de
novembro escrevera mesmo a Américo Tomás. Admirado por não receber
notícias do chefe do Estado e julgando-se ainda na pele de Presidente do
Conselho, desafiara-o a convocar um Conselho de Ministros para analisar os
resultados eleitorais.
A missiva, de «caligrafia incerta e linhas tortuosas», segundo Franco
Nogueira, com uma troca do nome de um ministro à mistura, é toda uma
evidência do seu desfasamento temporal e fragilidade mental.
Dez dias depois, reforçando a clausura de Salazar, Américo Tomás dará
ordens à polícia que vigia e controla a residência oficial: sem autorização da