A última criada de Salazar

(Carla ScalaEjcveS) #1

semântica. Mas a mudança política, só chegaria, de facto, em 1973, com um
decreto-lei que enquadrava o serviço doméstico no regime geral de previdência
social.
Quando, em agosto de 1970, Rosália decidira não querer mais a vida que
levava, sobretudo mantendo-se na capital, já as casas particulares, de boas
famílias, mandavam publicar anúncios dos jornais, dispostas a pagar 1100
escudos por uma empregada doméstica. Tempos esses em que uma viagem de
oito dias a Paris, de autocarro, poderia custar quase três contos, os infantários
levavam cerca de 350 escudos mensais para tomar conta das crianças e um
bilhete para ver A Relíquia , de Eça de Queirós, da plateia do Teatro Maria
Matos, custava entre 30 a 50 escudos. «Quando me vim embora, pude então
levantar o que havia na conta bancária, dos meus anos de trabalho em São
Bento», recorda Rosália. «Fui à dependência da Caixa, em Alijó. Não era
muito dinheiro.»


Após    a   morte   do  ditador,    Rosália teve    convites    para    ficar   em  Lisboa, mas regressou   a   Favaios.    Casou,
criou família, enviuvou. Padeira fora, padeira continuou. «Precisávamos de outro 25 de Abril» , diz,
agora, a antiga criada de Salazar.
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