A última criada de Salazar

(Carla ScalaEjcveS) #1
Rosália Araújo, no  alpendre    da  sua casa    em  Favaios,    em  março   de  2012.   Estão   presentes   a   filha
Maria do Céu, o filho Adelino e um dos netos. Falta-lhe cumprir um sonho: voltar ao palacete de São
Bento, onde nunca mais regressou depois da morte de Salazar.

Em 2010, a família cumpriu outro pedido que estava adiado: rumou a Santa
Comba Dão, depois de uma visita ao santuário de Fátima. Os filhos, mesmo
sendo orgulhosamente fruto de uma colheita fermentada em liberdade,
quiseram satisfazer um desejo de mãe. Para Rosália, haviam passado 30 anos
desde aquele final de tarde enlutado do Vimieiro, quando «o senhor doutor» foi
a enterrar.
Durante esse período, a memória de Salazar nunca deixou sossegar as almas
nem de semear a discórdia entre os conterrâneos do filho do Ti António feitor.
O termómetro da temperatura política, como afirmara um cronista, passou por
ali.
Em fevereiro de 1975, os calores da revolução atravessaram também Santa
Comba. Pela calada da noite, desconhecidos arrancaram a cabeça de bronze de
Salazar do monumento erguido em honra do ditador, em abril de 1965.
Sentado, de braços apoiados, situado no largo da vila fronteiro ao Palácio de
Justiça e à Igreja, Salazar aparecera decapitado ao amanhecer, serrado pelo

Free download pdf