As obras e a decoração – que Salazar decidirá e vigiará ao milímetro –
iniciaram-se em agosto de 1937, com caráter de urgência.
No andar térreo da casa ficavam o escritório, a biblioteca, a sala de jantar e a
sala de receção. Havia também uma copa que, em 1939, será ligada à cave,
onde ficava a cozinha, por um elevador.
O pequeno terraço das traseiras do palacete fora alargado e completado com
uma escadaria frontal para o jardim, abrangendo toda a fachada. No primeiro
andar, adaptara-se uma sala para eventuais conselhos de ministros, «inventara-
se» outro escritório e arranjara-se um quarto principal e um quarto de hóspedes.
A dada altura, considerou-se a possibilidade de construir uma passagem
subterrânea entre o jardim e a Assembleia, mas a ideia foi abandonada.
Da decoração inicial faziam parte peças de várias proveniências.
Os acervos do Palácio Nacional da Ajuda e do Museu Nacional de Arte
Antiga ganharam particular relevo, sendo incluídos 31 quadros e várias peças
de mobiliário adquiridas à coleção privada de Ricardo Espírito Santo. Tudo a
preços bem abaixo do mercado, depois de um perito do colecionador contestar
os valores da avaliação do Estado. Relutante a entrar em polémicas e disposto a
desistir de um eventual lucro, o banqueiro até acabaria por ceder gratuitamente
algumas obras, sem o conhecimento do ditador.
Para tal, terá sido necessária uma habilidade e dissimulação de monta.
Na verdade, Salazar era um observador perspicaz, dado a minúcias e alguma
mesquinhez na gestão da sua vida doméstica e nos gastos do Portugal
pequenino de São Bento que lhe coubera por função habitar. Durante as obras
do palacete, que duraram quase dois anos, o Presidente do Conselho ouviu as
sugestões da governanta, às quais juntou os seus desejos e ordens em relação à
casa num extenso manuscrito de 28 páginas – que viriam, no final, a ser 41 –
redigido pelo próprio punho.
Sempre fiel ao espírito de «aproveitar tudo o que existe» e na «maior
economia», nada escapará às suas diretrizes.
Na cave, impõe uma adaptação da cozinha, que é escura e precisa de mais
luz. Em alternativa, Salazar propusera que o espaço fosse tornado mais claro,
mudando o pavimento e colocando azulejos brancos. Considerara que um
fogão grande era exagerado para as necessidades e um pequeno ficaria
desproporcionado. Por isso, opta por instalar outro exemplar, de sua
propriedade.
No rés do chão, sugere a adequação da sua mobília de escritório ao novo
espaço. Reflete sobre os cuidados a ter com a sala habitual «de trabalho e de
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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