«Quero voltar», pede.
Maria prometera uma segunda oportunidade e cumpre.
Manda pelo correio o dinheiro para a viagem e a rapariga entra de novo nos
carris. Rosália regressa a São Bento, desta vez carregando um cesto com bolas
de ovos e pão de trigo que a mãe preparara. É recebida de braços abertos.
Nessa época, do lado de cá dos muros do palacete, há um País irrespirável,
de ar rarefeito. Mas para lá do portão da residência oficial, habita um mundo
quase idílico, protegido de agitações, protestos e inconveniências. «Salazar
teve a habilidade de fazer uma ditadura que não dava nas vistas», resumirá
Gustavo Soromenho, socialista e opositor. «Não se falava de nada. Não
pressentíamos nada», confirma Rosália. «Os ministros chegavam e fechavam-
se. Dentro de casa era outro País.»
Dali em diante, Rosália conhecerá um outro regime, paralelo ao de Salazar,
onde, da cozinha à faxina, governa outra ditadura: a de Maria.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1