A última criada de Salazar

(Carla ScalaEjcveS) #1

Salazar da grande política, sobre as controvérsias de Estado ou as contradições
do regime.
Aqui moram, isso sim, as máscaras, as luzes e as sombras de Salazar no seu
último tempo de vida. Aqui moram as histórias que, juntas no mesmo cenário e
contexto, talvez possam iluminar um pouco mais a faceta reservada e protegida
do homem e do político que governou Portugal, ininterruptamente, por 36 anos.
O testemunho de Rosália Araújo é, neste quadro, apenas uma das mãos –
talvez a mais humilde e pura – que guiará o leitor pelo universo privado da
ditadura e do ditador, com o País em fundo. Nem sempre ela estará presente,
mas nunca estará ausente da narrativa para a qual concorrem dezenas de outras
fontes, memórias e documentos, habitada por alguns episódios inéditos,
desconhecidos ou pouco explorados pela História (aqui se revela, por exemplo,
que aquela que é até hoje considerada a última entrevista de Salazar, não foi,
afinal, a derradeira).
Se há um objetivo nestas páginas, Louis Joxe – figura, no mínimo,
controversa da política francesa nas décadas de 1950 e 1960 – deu-mo
involuntariamente, em forma de citação, a partir das suas memórias: «A vida de
cada mortal traz apenas consigo um brilho fugaz, mas testemunhos,
aparentemente humildes, acrescentados a outros, permitem ressuscitar uma
época» (Louis Joxe, Victoires sur la nuit , Paris, Flammarion, 1981).
Se, a partir desta ideia, o leitor chegar à última página com a sensação de ter
observado Salazar de perto, e as suas circunstâncias, o meu objetivo terá sido
cumprido.


M.  C., Porto,  abril   de  
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