rira-se alegremente quando ela, por fim, a repetira.
- Confesse e enforque-se, assim será!
Partiria de imediato e confessaria tudo ao duque.
Retirou o manto do gancho e mudou rapidamente de roupa, envergando o traje de montar.
Interrompeu-se por um instante, ocorrendo-lhe que talvez o próprio rei se tivesse intrometido
naquela proposta de casamento. Quer tivesse, quer não, aquele gesto – sozinha e sem escolta –
de se atirar à mercê do duque, desafiando abertamente a proibição do rei, era muito perigoso.
Felizmente, na sua arca encontrou o véu que Cary Frazier certa vez lhe emprestara, o que
ocultaria o seu rosto de olhares indiscretos.
Correu até ao átrio e pediu que lhe trouxessem a égua do estábulo.
Estava prestes a montar quando se lembrou de que não sabia ao certo qual a direção a tomar
para chegar a Cobham. Tentando parecer mais confiante do que se sentia, perguntou ao
estribeiro-mor. - Cobham, senhora? – Cofiou a barba, pensativo. – Depende, refere-se a Cobham no condado
de Surrey, ou a Cobham em Kent?
Nunca lhe ocorrera que pudesse haver duas terras com aquele nome. Tentou lembrar-se de
alguma pista que Mall tivesse deixado escapar. Parecia-lhe ter memória de uma história acerca
de uma viagem pelo rio. - Penso que se chega lá por via fluvial – sugeriu.
- Então será Cobham em Kent, senhora. – Olhou para a égua com dúvidas. – Mas trata-se de
uma viagem muito longa para um cavalo jovem. Seria melhor apanhar um bote até à Ponte,
prosseguir pelo rio até Gravesend e fazer o resto do percurso numa carruagem.
Estaria ele a descrever a viagem como mais desafiante do que era, por desaprová-la? E,
contudo, cavalgar até Cobham, sozinha, quando nem conhecia o caminho, parecia extremamente
desavisado. - Agradeço-lhe a ajuda. Seguirei o seu conselho. Poderá pedir que levem a égua de volta aos
estábulos? - Com todo o gosto, senhora.
Ele ficou a vê-la a encaminhar-se para as escadas de Whitehall. Se não se enganava, aquela
era a mais recente amiga do rei. Perguntava-se onde iria com tanta pressa e se deveria
mencioná-lo a alguém do palácio.
Frances aconchegou-se no manto, espantada com a sua própria audácia. Não só era muito
pouco usual uma dama viajar sozinha, como ela se aventurava em algo que o próprio monarca
proibira expressamente.
Com o vento a emaranhar-lhe os cabelos, fitou o buliçoso Tamisa. A ponte de Londres ainda
era a única forma de o atravessar sem ser de barco e, como de costume, fervilhava de atividade,
apinhada de vendedores e mercadores de todos os géneros. Embora, noutra ocasião, pudesse
sentir-se tentada pelas capelistas, vendedoras de rendas e chapeleiras, naquele dia passou por
baixo da ponte, fascinada com a água veloz que se agitava sob os arcos, e embarcou num bote
coberto que se dirigia a Gravesend e a Tilbury.