Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Foi com alívio que Frances viu que já lhe traziam um cavalo dos estábulos; montou e
despediu-se:



  • Adeus, Vossa Senhoria. Desejo que seja feliz na sua nova situação.
    Puxou as rédeas do cavalo de forma a que este virasse os quartos traseiros para Cobham Hall

  • o local que ela reconhecera com o seu olhar interior, sabendo de imediato tratar-se do lar por
    que ansiava – e começou a cavalgar a bom ritmo na direção de Gravesend, enquanto Charles
    Stuart, com a expressão de um homem que tivesse visto a própria morte, a observava.
    Em menos de cinco minutos, já não via Cobham. Limpou uma lágrima e galopou até à
    portagem, onde chamou o portageiro, pedindo-lhe que levantasse a barreira. Enquanto ele saía
    da sua casinha, uma pequena carruagem amarela aproximou-se. Quando parou ao lado de
    Frances, esta apercebeu-se, com um sobressalto, de que tinha o brasão do duque de Richmond
    pintado de lado.
    Uma mulher de rosto desagradável, de juventude já ultrapassada, com uma rapariga
    igualmente feia sentada atrás dela, levantou a cortina de couro que impedia que os elementos
    entrassem na carruagem e espreitou, querendo que o portageiro lhe dissesse porque ousava
    deixá-la à espera.

  • Não sabe quem eu sou? – perguntou, apontando para o brasão da carruagem.
    Apesar de ser um duque com coroa, Charles nunca teria encontrado uma carruagem tão
    ostentosa; nem, pelo que dissera a Frances, teria podido suportar tal custo. Era óbvio que a
    dama não perdera tempo algum a anunciar o seu novo estatuto a tudo e a todos.
    Frances esperava que ele não viesse a ter motivos para lamentar a nova aliança. Mas parecia
    que casara com uma harpia.
    Sentiu-se agradecida por seguirem tão poucas pessoas na barcaça que partiu de Gravesend.
    Numa ponta, um grupo de homens debatia os impostos e o que se dizia acerca de uma guerra
    com os Holandeses. Na outra, algumas mulheres tinham-se juntado, com cestos de compras e de
    roupa lavada nos joelhos. Frances sentou-se a poucos metros delas.
    Perdida nos seus pensamentos, não prestou atenção à conversa que entabulavam, até se
    aperceber de que falavam do duque.

  • Ouvi dizer que se casou no Hall – anunciou uma mulher anafada que transportava uma
    galinha ainda mais gorda.

  • E já não era sem tempo – replicou a dona de casa que levava roupa.

  • Então, Prue, não passou assim tanto tempo desde que perdeu a jovem esposa e a bebé.

  • Mais uma razão para tornar a casar. O John, o marido da minha Kate, é o ferrador dele. O
    mordomo dele diz que o duque não se dedicou ao que quer que fosse desde que aquilo
    aconteceu. Tem cinco vintenas de criados a depender dele e todos ficaram aliviados por ele ter
    casado outra vez. Agora tudo o que precisa é de um belo herdeiro saudável.

  • Sim – cacarejou a senhora da roupa. – Mas ouvi dizer que a viúva com quem casou é velha
    e feia.
    A proprietária da galinha desatou a rir.

  • Então é bom que apague as velas, recorde o velho adágio «à noite todos os gatos são

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