Worcester – uma história narrada com tanta frequência que todos, exceto Frances, bocejavam.
Um calor sufocante abateu-se subitamente sobre Londres, enchendo o ar de tanta poeira que
até os mercadores ambulantes deixaram de gritar «Cerejas maduras!» ou «Cadeiras novas pelas
velhas!» e se abrigaram do sol abrasador em becos escuros, disputando com os ratos a pouca
sombra que encontravam.
Os teatros, sempre quentes e sobrelotados, estavam-no ainda mais. As damas tentavam
disfarçar o suor ensopando-se em perfume, mas ainda havia quem desmaiasse na plateia
enquanto esperavam pelas representações que começavam às três da tarde, hora a que o sol
parecia mais quente. Nada intimidada, Frances assistia a peças quase todos os dias, quer no
Teatro do Duque quer no do Rei, apreciando muito The Indian Queen, The Court Secret, The
Slighted Maid, e sorrindo com amargura ao ver The Rival Ladies 13.
Apesar do sol, ela ia até ao ringue de Hyde Park, adorando a nova moda das carruagens com
janelas envidraçadas, que aumentavam a possibilidade de se ver e ser visto. Jogava às cartas e
aos dados e gastava todo o ordenado de aia em chapéus, vestidos, véus de renda e véus
pintados, feitos de pele de galinha. E, entretanto, ia flirtando com os fidalgos e esgrimindo
combates verbais com cortesãos como os Lordes Bockhurst e Rochester, que começavam a
mudar a opinião que tinham dela.
- Beleza sem bondade não vale metade – recordava-a a ama com azedume, dividida entre o
orgulho que sentia pela beleza da sua jovem e a preocupação por ver a borboleta colorida que
emergia de um casulo modesto. - Frances Stuart – maravilhou-se a irmã Sophia –, pareces uma dama completamente
diferente. Sempre pensei que eu era a errante da família. - Pois bem. – Frances fechou o seu leque novo, recusando-se a pensar no que poderia ter
sido. – A verdade é que eu era muito parada. Agora só com sorte tenho cinco minutos para me
sentar.
Sophia Stuart não era a única pessoa a reparar na transformação de Mistress Frances Stuart.
Barbara Castlemaine sorria-lhe, pois calculava que isso significava que a camada dourada
que revestia o lírio inocente começava a pelar, e que o que atraíra o rei depressa se perderia.
Mall observa-a com um laivo de tristeza, pois sabia a razão de tudo aquilo.
O irmão de Mall, o encantador mas tortuoso duque de Buckingham, também notou e ponderou
muito sobre qual seria a melhor forma de a usar em seu proveito.
Com esse intuito, abordou a irmã certa noite enquanto Mall observava o rei a acompanhar
Frances numa vigorosa dança campestre. Estavam nos aposentos da rainha, embora esta se
encontrasse a jogar às cartas. Era um belo quadro, com os cavalheiros vestidos com veludos e
rendas, as damas nas suas sedas e tafetás, com brincos de pérola que refletiam as luzes de
dezenas de velas. - Bem, Borboleta – sussurrou o duque, inclinando-se tanto que os caracóis da sua peruca
loura roçaram na face de Mall, fazendo-lhe comichão. – O que achas? A bela Stuart sucumbiu?
De Grammont acha que não, e ele é o mestre de todas as apostas. O rei, diz ele, seria menos
cordial se ela o tivesse feito. E, se ele estiver certo, teremos de agir depressa, pois esta ousada