Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Então não tem procurado nos locais certos.
    Sem se darem conta, tinham regressado ao passeio dos castanheiros, que entretanto ficara
    apinhado de cortesãos, que os observavam com curiosidade.
    Frances conteve o sorriso de intimidade e despediu-se com uma pequena vénia formal.

  • Adeus, Mister Worthington. Espero que o seu conselho, para além de generoso, se revele
    correto.
    Perscrutou a multidão de observadores curiosos, esperando ver um rosto amigo.
    Contudo, aquele que viu era indesejável.
    Barbara Castlemaine, envolta num vestido impróprio de cetim cor de bronze, que revelava
    mais das suas curvas voluptuosas do que seria adequado àquela hora ou a qualquer outra,
    olhava para ela com um sorriso presunçoso e satisfeito que, conforme Frances notou, a deixava
    com um queixo duplo pronunciado.
    Sem lhe dirigir palavra, Frances sobraçou o manto e caminhou em direção ao ativo mercado
    onde os vendedores apregoavam as suas mercadorias.
    Recusava-se a ser intimidada por Barbara.
    No mercado, chamou-lhe a atenção um leque particularmente bonito que representava uma
    deusa grega debruçada sobre uma criada, pois tinha nítidas semelhanças com a filha de Mall,
    Mary. Parou para o comprar, apoiando-se ao poste de madeira que suportava o grande toldo,
    cuja sombra cobria toda a banca. Aquela pequena lembrança agradaria muito a Mall.
    Sorriu, satisfeita consigo mesma, a recordar o seu encontro com o jovem e quão simpático e
    nada afetado ele se mostrara; gostaria de saber se ele assistiria à caça à lebre com galgos que a
    rainha solicitara para essa tarde, pois queria ver o próprio cão a perseguir a lebre.
    Enquanto observava o vendedor a embrulhar-lhe o leque num pano sedoso, ouviu uma voz
    conhecida e, instintivamente, ocultou-se na área sombreada junto às bancas.
    George Worthington caminhava pelo mercado na companhia de um homem mais velho e que
    Frances reconheceu de imediato como sendo o conde de Grammont, um dos cortesãos mais
    argutos e infames de Whitehall.

  • Meu querido George – ronronava de Grammont –, pois é óbvio que está apaixonado por
    ela, quem não estaria? É tão encantadora quanto o dia é longo. Tal como eu fiquei
    completamente enamorado por Mademoiselle La Motte Houdacourt, aia da rainha viúva, em
    França. E, quando descobri que o rei Luís também a desejava, recusei afastar-me, embora
    houvesse a lei tácita de que, se o rei tivesse falado com uma dama mais do que uma vez, todos
    os outros pretendentes deveriam recuar. Em vez de me afastar, como qualquer homem sensato
    faria, enviava-lhe luvas perfumadas e compota de alperce. Deixava-lhe caixas elegantes diante
    da porta. E será que conquistei a mão da bela mademoiselle com a minha valentia tola? –
    Interrompeu-se, sofrendo de novo com a memória dolorosa. – Não, fui banido da corte francesa
    e tive de vir para aqui, para este país bárbaro!

  • Então crê que não devo dar seguimento ao meu contacto com Mistress Stuart?

  • Meu querido rapaz, está louco? O rei ama-a acima de tudo! Acabaria enviado numa
    expedição à Guiné na companhia do príncipe Rupert, ou nalguma façanha onde teria de arriscar

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