regressado.
- E eu deveria ir averiguar se a rainha deseja os meus serviços. – Frances virou-se para a
porta, mas Mall agarrou-lhe a mão e deteve-a. – Não, fique. O Tom vai embora e, quando ele
partir, ficarei sem o meu sol. Precisarei que me conforte.
Frances sentou-se na beira da cama, acariciando a mão de Mall, que revelava mais os anos
do que o fulgor do cabelo castanho ou o brilho dos olhos cor de avelã. Que estranho que tivesse
ido em busca de consolo e acabasse por ser ela a dá-lo. Mas talvez pudessem confortar-se uma
à outra.
Tom regressou ao quarto, vestido de veludo negro, com rendas prateadas. Fez uma vénia e
mostrou uma rosa. - Como símbolo de amor não é muito, mas colhi-a da roseira ao lado da janela. As suas cores
vivas fazem-me lembrar de ti. – Levou-a ao nariz. – E o seu perfume doce e irresistível também. - Então leva-a contigo, não ma dês – respondeu Mall, colocando-lha dentro do gibão.
- Vou mantê-la junto ao coração.
Por entre os trocadilhos, Frances pressentia uma mágoa amargurada e compreendeu que a
inveja que sentira por Mall e pelo seu jovem e despreocupado amante poderia não ter razão de
ser.
Ele curvou-se e beijou-a, com os olhos subitamente toldados pela dor. - Adeus, minha querida. Espero que voltemos a ver-nos em breve.
E partiu.
Mall esperou até ouvir os últimos passos dele nas escadas e então soltou um gemido
angustiado, como se estivesse a passar pelos últimos estertores do parto.
Alarmada, Frances ajoelhou-se ao lado dela. - Ele vai-se embora – sussurrou Mall numa voz rouca, como se cada palavra a sufocasse. –
Matou um homem. O meu glorioso e afortunado Tom. Foi num duelo, mas não importa. Sabe que
o rei detesta duelos e o Tom é tenente da guarda pessoal de Sua Majestade. E agora tem de
partir e esperar que o rei o perdoe. - Como aconteceu isso, qual foi o motivo do duelo?
A pergunta deixou Mall ainda mais angustiada. - Foi por causa de Lady Shrewsbury. Eu sei, eu sei, deveria estar zangada com ele e nunca
mais o ver. Anna Maria Talbot é uma meretriz à altura da minha prima Barbara. Só tem vinte e
três anos, mas já teve uma torrente de amantes. Até o meu próprio irmão suspira por ela. – Mall
endireitou-se, apoiando-se nas almofadas. – É uma história tola. O Tom convidou-a para cear no
jardim primaveril e levou um gaiteiro do regimento para lhe fazer uma serenata. Depois o Henry
Jermyn, esse Lotário estúpido e minúsculo, que se julga capaz de fazer qualquer mulher ir
comer-lhe à mão, e não só à mão, decidiu cortejá-la e riu-se do gaiteiro. O sangue dos homens
jovens ferve mais do que a cerveja apimentada no ferro do fogão, pelo que o Tom desafiou o
Jermyn. Enfrentaram-se no dia seguinte e o padrinho do Jermyn foi atingido e morto. - E o Tom não pode implorar o perdão de Sua Majestade e oferecer-se para se redimir?
Mall abanou a cabeça.