Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Não obstante, foi com um suspiro de alívio que emergiram na beleza elegante da Piazza, em
tempos o local do jardim conventual da abadia de Westminster, antes da dissolução dos
mosteiros, com os seus terraços encantadores e colunatas projetadas muito recentemente por
Inigo Jones, «para atrair Pessoas de Grande Distinção». Objetivo que fora muito bem-sucedido,
já que se sabia que três condes haviam comprado casas ali, embora esses nobres já olhassem de
soslaio para os vendedores ambulantes e outros mercadores que se multiplicavam como moscas
sob o sol quente de agosto, com os seus pregões de «Ameixas maduras!», «Tartes de cordeiro
quentes!» e «Compre os meus morangos de Kent!»
Frances parou para escutar um cantor de rua que interpretava uma canção engraçada mas
muito indecorosa sobre o rei e um dos seus casos amorosos. Riu-se e atirou-lhe uma moeda.



  • Caramba, senhora – provocou-a Mall. – Não se ria. É provável que seja a seu respeito!
    O estúdio do pintor oficial da corte ocupava o primeiro andar dos números 10 e 11, virado
    para norte, a melhor luz para os pintores.
    Frances, esperando um espaço vazio e desafogado, ou talvez um rabequista que
    proporcionasse música relaxante, ficou atónita ao ver que o estúdio estava tão apinhado como
    um mercado num dia de festa.
    A um canto, um jovem alto atarefava-se a pintar flores e frutos numa grande tela; noutro,
    depararam-se com um artista que preenchia os contornos de mãos e coloria representações
    dramáticas de montanhas e nuvens.
    Na divisão seguinte, um cavalheiro barbudo pintava cortinados pesados, com uma grande
    faixa de seda castanha-alaranjada à sua frente para conseguir captar mais facilmente o brilho
    cintilante.

  • O mestre Lily é muito apreciado pelas suas representações de drapeados, mas eu não sabia
    que empregava outra mão para os pintar – sussurrou Mall, sem lhe ocorrer que pudessem estar a
    ser escutadas.

  • O que serve aos mestres Rubens e van Dick também é bom para mim – exclamou um homem
    jovial e anafado, com uma peruca castanha-clara e bigodes a condizer, que Frances calculou ser
    o próprio pintor. Sorriu, pensando que ele se assemelhava a um gato alaranjado que tinham tido
    no Palais Royal, e que se revelara o melhor caçador de ratos de Paris. – Como as minhas, as
    obras desses gigantes tiveram uma procura tão grande que não podiam completar todos os
    pormenores eles mesmos. Tinham de recorrer ao auxílio de outros, tal como eu faço.
    Frances olhou em redor, resistindo à tentação de o acariciar, e reparando que as mãos de
    outros pareciam ser responsáveis por bem mais do que pequenos pormenores dos quadros.

  • Então, senhora... – Inclinou a cabeça de lado, já a parecer mais um galo do que um gato. –
    ... como havemos de a representar no retrato? Uma pastora com um cajado e um cordeiro? Uma
    Flora romana? Ceres, rodeada de abundância? – Frances abanou a cabeça. – Vénus, então, com
    roupagens translúcidas, a emergir da espuma?
    De súbito, Frances recordou o primeiro encontro que tivera com o duque de Richmond, no
    qual ele a comparara a Diana.

  • Reserve essa pose para Lady Castlemaine. Serei uma casta Diana.

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