E cumpriu o prometido, pousando para ele outras vezes, até que Lely lhe disse que, com
trabalho árduo e alguma sorte, a visita seguinte poderia ser a última.
Contudo, quando regressou conforme ele lhe pedira, ficou surpreendida por dois motivos. O
primeiro era agradável. Mestre Lely tinha praticamente terminado a pintura e as semelhanças
encantaram-na.
O segundo foi a presença do rei.
Este tinha levado os cães e vários dos cortesãos mais ignóbeis, incluindo Rochester e Sedley,
e todos examinavam cuidadosamente o retrato dela com um ar muito crítico.
Carlos fitou o quadro durante longos momentos, cofiando a linha fina do seu bigode – os
olhos escuros, capazes de punir ou elogiar com exuberância, concentravam-se na figura de
Frances.
O tempo ia passando. Finalmente, virou-se para Peter Lely.
- Mestre Lely, saúdo-o. É uma obra-prima. Capturou o veludo da pele dela, os olhos como os
de um fauno a beber orvalho de madrugada, o fulgor dourado do seu cabelo suave! Far-me-á
uma cópia assim que puder.
Mestre Lely sorriu, agradado e aliviado, quando o rei fez uma vénia e partiu.
Contudo, assim que o rei virou costas, Mall ouviu distintamente o comentário que Lorde
Rochester fez em voz baixa ao seu amigo Sedley: - Por amor de Deus, homem. Será que ninguém cura o rei desta paixão humilhante? Ele
negligencia os assuntos de estado e deixa que o país se arruíne. Se a única forma de se
restabelecer é possuindo a jovem, então terá de a possuir. Depois poderá regressar aos braços
da Castlemaine e teremos todos algum sossego.
Os olhos de Mall dardejaram para Frances que, felizmente, parecia não ter ouvido as
palavras cruéis.
Lá fora, na Piazza, o rei aguardava na carruagem real.
Frances despediu-se do pintor com um aceno da mão, antes de dirigir o seu sorriso mais doce
a Lorde Rochester. - Talvez deva ter cuidado com o que diz, senhor. Se o rei de facto desfrutasse de mim, como
teve a amabilidade de sugerir, seria possível que isso não lhe diminuísse, mas antes aumentasse
a paixão. – Rochester imobilizou-se enquanto os olhos dela lhe perscrutavam o rosto bonito mas
devasso. – E eu poderia revelar-me uma inimiga perigosa. Também o fauno pode crescer e
transformar-se num veado.
14 Em português no original. ( N. da T. )