Decidiu que faria tudo o que pudesse para proteger Walter daquele mundo, que poderia ser tão
duro quanto cativante.
- Temos a manhã livre, por isso, o que te agradaria ver? A maravilhosa ponte de Londres? O
novo mercado? Um teatro? - Ouvi dizer que Jacob Hall, o funâmbulo, demonstrará as suas habilidades esta manhã nos
terrenos de Lincoln’s Inn – anunciou Cary. - Porque quereria ele ver um funâmbulo? – perguntou Catherine. – Isso é espetáculo para os
que frequentam a feira de S. Bartolomeu. - Que estão tão abaixo de si? – Cary pôs um dedo sob o nariz, empinando-o para troçar da
amiga. – Dizem que o Jacob Hall é o novo amante de Lady Castlemaine. Que ela desejava saber
se a destreza dele se estende ao uso de outras partes do corpo!
Frances olhou de relance para o irmão, querendo saber se ficara chocado, mas ele ria-se com
elas. - E então? – perguntou Frances, também a rir.
- Ela não nos disse. – Cary lançou um olhar inquiridor a Frances. – A senhora é que era
grande amiga dela, não nós. Dormiu nos aposentos dela e tudo. Todas nós ficámos
espantadíssimas. A Lady é tão amiga de outras mulheres como uma aranha é de moscas. Não
vivem para contar como foi. - Eu gostaria de ver esse funâmbulo – garantiu Walter. – Gostaria de saber como é esse
homem, comparado com os que vi em França. - Vejamos este Jacob Hall, então. Será muito divertido.
- Vou precisar do meu manto, se vamos pelo rio – declarou Catherine, com um arrepio.
O barqueiro ficou muitíssimo impressionado por ir transportar três damas jovens e bonitas e
um jovem cavalheiro e, quando lhe disseram o destino pretendido, não parou de lhes falar das
maravilhas que havia visto em feiras. - Um gigante com mais de dois metros e um porco que, juro, tinha três cabeças, e, pela minha
vida, uma cabra que se apoiava nas patas traseiras e recitava os Salmos.
Frances e Walter desataram a rir, encantados por estarem na companhia um do outro ao fim de
tanto tempo. - Estás tão alto! Um verdadeiro cavalheiro jovem.
Ele não era exatamente igual a ela. Apesar de partilharem o cabelo louro, tinha os olhos
gentis do pai e um ar de comovente otimismo que ela esperava Londres não destruísse. - Tenho dezasseis anos – comentou ele com um sorriso. – Idade suficiente para começar uma
carreira; pelo menos, é o que o pai diz. - Não sabia que desejavas ser advogado.
- Não desejo! Quem, com um coração a bater no peito, desejaria tal coisa? Queria fazer-me
ao mar, mas o pai diz que não podemos suportar o custo de me mandar. – Fitou a irmã,
calculando se poderia confiar nela. – Já quase estive para ir até uma cervejaria das docas e
tornar-me um dos recrutados à força. - Não digas isso! Podias acabar nalguma viagem malfadada à Guiné.