A avaliar pelo brilho dos olhos de Walter, a perspetiva não o assustava, mesmo com os
horrores da doença e talvez até da morte, como ela temia.
- Espere um pouco e não tardará a poder fazer-se aos mares – sugeriu Cary Frazier. – O meu
pai diz que cada vez se fala mais de uma guerra com os Holandeses. Na semana passada, um
navio dos Países Baixos recusou-se a recolher a bandeira em alto-mar na presença da nossa,
como sempre foi costume, e o duque de York esteve tentado a afundá-lo.
Aterraram junto às escadarias do templo, abalados com aquela ideia, e fizeram o último
trecho do percurso numa carruagem.
Havia tanta gente naqueles terrenos que parecia que as multidões tinham ido ver, não um
funâmbulo, mas uma coroação. E, contudo, a populaça, ao reconhecer o estatuto das jovens e do
rapaz, abriu-lhes alas como se Moisés tivesse ordenado ao Mar Vermelho que se dividisse em
dois, até se encontrarem bem à frente, onde se sentaram num banco de madeira.
Um jovem pôs-se de pé num pulo e exigiu dezoito pennies pelo privilégio de cada lugar. - Poderíamos ter ido ver uma peça ao Teatro do Duque, por esse preço! – protestou Catherine
Boynton, irritada. – Em vez de um acrobata qualquer. - Com todo o gosto vos oferecerei os lugares, senhoras.
Viraram-se e depararam-se com Lorde Rochester, sentado atrás deles, acompanhado por
Charles Sedley e pelo conde de Grammont. A última coisa que Frances desejava era que ele lhe
fizesse um favor, depois do encontro no estúdio do mestre Lely, onde ele fora tão insultuoso e
ela tão rude. Contudo, antes que pudesse impedi-lo, ele já entregara ao rapaz o preço dos quatro
bilhetes. Esteve prestes a comentar que esperava que o dinheiro fosse dele, já que Lorde
Rochester se encontrava sempre endividado.
Soaram trombetas e, ao rufar de um tambor, um homem marchou por entre o público,
descrevendo vénias e atirando o manto para trás como se fosse o próprio rei.
Para surpresa de todos, era jovem e belo, com longos cabelos castanhos e um sorriso fácil.
Ao aproximar-se, teve o cuidado de acenar a todas as damas e de fazer vénias diante dos
homens.
Chegando à fila da frente, ao ver três jovens damas da corte, ajoelhou-se e beijou a mão a
todas.
Com um floreado, fez aparecer uma fita preta e pediu a Frances que lhe atasse o cabelo.
Depois, com grande espetacularidade, ao som de tambores e trombetas, testou a corda de
cânhamo, retesou-a mais e saltou para cima dela. Começou a percorrê-la de um lado para o
outro, sorrindo e desapertando as fitas do camiseiro até deixar exposta uma porção do peito
esbelto. As mulheres da audiência gritavam e assobiavam. - Porque paras por aí, Jacob? – cacarejou uma velha atrás deles. – Mostra-nos a tua verga!
Jacob Hall fez uma vénia. - A minha verga não é para gente como a senhora, mãezinha.
A velhota deu uma cotovelada a Frances. - Vá, peça-lhe a senhora. Ele por si vai fazê-lo, aposto.
Frances olhou para trás e viu que o olhar do conde de Grammont não a largava.