Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

corredor.



  • Ela queria saber como era o brasão da nossa família – explicou Mall –, por isso trouxe-a
    até aqui, para que o visse. – Falou mais baixo: – Agora que em breve será prometida em
    casamento, passou a interessar-se pela sua linhagem. Vês, Mary, aqui está o brasão dos Villiers!

  • Apontou para o timbre. – E este é o lema da nossa família: «A cruz é o teste da verdade.»
    Então – continuou, olhando para as três jovens de sobrancelha arqueada –, o que andam as três a
    fazer com um ar tão culpado?

  • Fomos ver o Jacob Hall, o funâmbulo – confessou Cary, a sorrir. – E ele perdeu-se de
    amores pela Frances.

  • E, Mall, a melhor notícia: o Walter veio para Londres e agora vamos vê-lo com frequência.
    Mall sorriu, satisfeita por Frances, que precisava de se distrair desde que o duque de
    Richmond se casara.

  • Vamos – instou-as Catherine. – A rainha poderá estar a chamar-nos.
    Mall observou-as a afastarem-se em passo ligeiro, tão novas e descomprometidas. Dizia-se
    que Catherine Boynton receberia em breve o dote de duas mil libras que a Coroa costumava
    proporcionar às damas de companhia. Receberia Frances o mesmo? E bastaria uma maquia tão
    modesta para contentar um homem nobre? Contudo, que homem seria suficientemente louco para
    propor casamento à mulher que o rei amava com tanta paixão?
    Mall suspirou, aliviada por, ao menos, o seu irmão ter abandonado aquele ridículo comité
    disposto a conquistar Frances para o rei.
    Frances despediu-se das outras e correu para o seu quarto, cansada do passeio, para refrescar
    o rosto com água do jarro que o gentil-homem da câmara mudava dia sim, dia não, antes de ir
    averiguar em que consistiriam os seus deveres. Todavia, teve a surpresa de descobrir que algo
    fora deixado em cima da cama, a qual tinha a cabeceira coberta com um dossel.
    Tratava-se de um grande e extravagante cesto de fruta. Continha maçãs frescas, ameixas que
    ainda exibiam um fulgor arroxeado e outonal e, no centro, um ananás, algo tão recente nas costas
    inglesas que os construtores de Covent Garden o tinham adotado como símbolo elegante.
    E, porém, parecia não haver um cartão ou uma mensagem do remetente. Teria de perguntar ao
    criado que as entregara. Encolhendo os ombros, serviu-se de uma maçã e reparou então que
    havia qualquer coisa enterrada sob a palha debaixo da fruta. Remexeu na palha, sentindo-se
    como uma criança numa diversão de feira, desejando uma prenda escondida.
    Em vez disso, ficou sem ar. A surpresa que a palha ocultava era um anel de pérolas que,
    preso por um fio de seda, tinha um cartão que a convidada a comparecer numa festa dada em
    honra do rei, pelo duque de Buckingham, na sua mansão, Wallingford House. Olhou para o anel,
    estupefacta. Se eram assim os convites, quão sumptuosa seria a própria festa?
    Como qualquer jovem que apreciasse bailes e saídas, a primeira coisa em que pensou foi no
    que vestiria. Acorreu à cómoda onde guardava as suas melhores roupas e tirou de lá o seu
    vestido de organdi cor de alperce, que Minette lhe dera. Era demasiado faustoso para a maioria
    das ocasiões, mas não para aquela. Sacudiu-o, e os drapeados cintilaram como o pôr do sol a
    refletir-se na água.

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