Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1
Uma batida na porta interrompeu-lhe o devaneio.
O gentil-homem da câmara fez uma vénia.


  • Sua Senhoria de Buckingham, senhora.
    Frances tentou disfarçar a surpresa que sentia perante uma ocorrência tão invulgar. Regra
    geral, os visitantes eram recebidos no grande salão, ou na sala de visitas. Uma visita nos seus
    aposentos, sobretudo de uma dama que mal conhecia, era deveras inusitada.
    A duquesa de Buckingham fora outrora a simples Mary Fairfax, filha de um dos generais de
    maior confiança de Cromwell e prometida ao conde de Chesterfield, tendo os banhos sido
    anunciados duas vezes, quando o sedutor George Villiers entrara na sua vida e a reclamara para
    si. Isso originara um grande burburinho e Cromwell não ficara satisfeito, dada a proximidade do
    duque com o rei, mas, fosse como fosse, a cerimónia realizara-se.
    Contudo, Mary pagara o preço por ter escolhido aquele marido. O duque causara-lhe muitos
    problemas e continuava a causar. Parecia, no entanto, que ela o amava mesmo assim e fazia
    sempre o que ele pedia, por maiores cuidados que tivesse.

  • Boa tarde, Mistress Stuart. Vejo que recebeu o convite para a nossa pequena festa.

  • É verdade, sim, Vossa Senhoria.
    Frances corou, embaraçada por já ter estendido o vestido sobre a cama; parecia um gesto
    muito infantil, o de um convidado incapaz de esperar por uma festa. Mas Mary sorriu. Não era
    uma dama bela e parecia já algo velha e cansada. Ser casada com o duque deveria ser
    extenuante.

  • Queríamos transmitir a ideia de que a noite será uma surpresa para o rei e que os
    convidados serão muito seletos. O embaixador da Moscóvia estará presente, bem como os mais
    altos membros do Conselho, mas nenhuma das habituais damas inconstantes da corte. O meu
    marido vê em si uma jovem sensata que será capaz de se comportar numa ocasião deste género.
    Frances recordou a forma como o duque a observara nas várias ocasiões em que se haviam
    cruzado. Não era o seu bom-senso o que ele parecia apreciar.

  • Obrigada, Vossa Senhoria. Queira ter a bondade de dizer ao seu esposo, o duque, que
    decerto saberei comportar-me. Contudo, a irmã do duque, a Mall, com certeza estará presente,
    não?
    A duquesa virou-se e tocou na fruta do cesto.

  • Adoro ananás; agrada-lhe, Mistress Stuart?

  • Ainda não tive o prazer de experimentar.

  • Tal como outras coisas que ainda não experimentou, minha querida.
    Uma expressão curiosa surgiu-lhe no rosto, uma mescla de esperança com lascívia. Era, de
    facto, uma dama estranha, concluiu Frances.

  • Mister Rose, o jardineiro do rei... – continuou a duquesa, num tom nervoso –, ah, ah, que
    nome tão apropriado para alguém que cuida de plantas... plantou um nas estufas reais. Amanhã
    encontrar-se-á entre companhia honrada, a propósito. Lorde Arlington, sir Charles Berkeley, o
    embaixador, claro...

  • Mas não a Mall?

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