- A Mall não gosta de ocasiões tão formais e, francamente, por vezes é demasiado
espontânea. – Remexeu na franja do seu cinto. – Já terá ouvido falar das partidas que pregava
quando era criança, escondendo-se numa árvore, fingindo ser uma borboleta? E suspeita-se de
que escreve poesia bastante indecente que satiriza o rei. - Ao contrário de Lorde Rochester, que escreve versos de uma indecência escandalosa e a
quem o rei muito preza, não obstante?
A duquesa ignorou a interrupção e apressou-se a continuar: - E agora este caso ridículo com o Tom Howard. Ela tem quase o dobro da idade dele e ele
não tem nem um tostão, para além de que matou o jovem Giles Rawlins por causa daquela
meretriz, Lady Shrewsbury. – Ficou com o rosto vermelho e a voz imbuída de raiva ao
mencionar Lady Shrewsbury, o que levou Frances a pensar se o duque também teria sido uma
vítima da fatal Anna Maria. – Será que ela não tem vergonha? Não lhe importará o nome da
família? Bom, mas no fundo o que interessa é que decidimos que seria melhor nada dizer à
minha cunhada, para que não fique ofendida por não ser incluída. Compreende? Posso contar
com a sua discrição? – Esboçou um sorriso nas suas feições feias, que parecia tão falso como a
flor de seda que tinha no cabelo. – Agora tenho de procurar a rainha. Esperamos vê-la amanhã à
noite e enviaremos uma carruagem para a vir buscar quinze minutos antes da hora marcada.
Frances teve vontade de insistir que, se Mall não fosse, ela também não iria. Contudo, estava
ciente da tormenta que isso provocaria e de que Mall não lhe agradeceria. Não queria mais
escândalos a respeito do seu amor por Tom. - Até amanhã, então.
E, doravante, teria de ocultar o acontecimento a Mall, o que lhe causava mal-estar, sobretudo
porque Mall era como um terrier em busca de um rato, no que concernia a segredos e
mexericos. Assim, Frances concluiu que a melhor estratégia seria evitá-la até o dia da festa ter
passado, podendo então regalar a amiga com histórias acerca de quão hedionda fora a noite e de
quão pomposos se haviam mostrado os duques e as suas pretensões. Sabia que Mall seria uma
ouvinte ávida.
A melhor forma de a evitar seria ir cavalgar. Mall não partilhava o seu gosto por saltos
acrobáticos e galopes desvairados através de campos enlameados.
Vestiu o fato de montar, de brocado debruado com cornucópias elaboradas com esmero, e os
folhos de renda presos ao pescoço com um laço de seda. Ocorreu-lhe pedir a Walter que a
acompanhasse, mas perderia muito tempo com o envio da mensagem e a espera de resposta.
Postou-se diante do espelho para prender o chapéu com uma pena vermelha e depois deu um
passo atrás, observando-se por um instante. Fitou a sua imagem, o cabelo louro e suave, a pele
delicada da juventude, os olhos que o rei dissera fazerem-no pensar num fauno. E, no entanto,
pensou ela, já a erguer o queixo, tenho este nariz. Era um nariz sério, romano, o nariz de uma
mulher firme, não de uma jovem tola. - Que me subestimem, se quiserem – murmurou para o seu reflexo e sorriu.
Porém, não se tratava de um sorriso gentil e terno, antes cínico e rebelde. Escondia-se algo na
noite seguinte que lhe causava suspeitas, pelo que estava determinada a manter-se alerta.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1