Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Queixo erguido e contra eles! – encorajou o papagaio. – Mostre-lhes de que é feita.

  • Obrigada, pássaro – agradeceu, fazendo uma vénia tão profunda ao amigo aviário que a
    pena vermelha do seu chapéu roçou no chão.
    Frances passou pela portaria de tijolo depois dos grandes aposentos para onde Barbara
    acabava de se mudar – o que causara uma considerável agitação e servia para demonstrar que
    ainda tinha influência sobre o rei – e, atravessando o átrio, dirigiu-se ao parque de St. James.
    Um batalhão de soldados praticava a formação da Guarda da Cavalaria, todos eles esplêndidos
    nos seus gibões de couro. Ela parou por um momento a observá-los, pensando em Tom Howard
    e em como poderiam persuadir o rei a deixá-lo voltar.
    Esporeou o cavalo e galopou com o vento a soprar-lhe no cabelo, livre como um pássaro,
    sentindo o coração a espraiar-se e as preocupações a desaparecer, como o orvalho ao nascer do
    sol. Tal como o papagaio dissera, ela deveria mostrar-lhes de que era feita.


No dia seguinte, teve a sorte de não se cruzar com Mall.
Dado que a festa seria nessa noite, Frances vestiu-se com cuidados redobrados. Cary Frazier
insistiu em ajudá-la e ali ficou, dando retoques, afastando-lhe o vestido dos ombros e passando-
lhes pó com uma pata de lebre até ficar, finalmente, satisfeita com a aparência da amiga.



  • Esse vestido favorece-a de facto, mas o que usará ao pescoço?
    Frances despejou um monte de joias, nenhuma valiosa, para cima do toucador, enquanto, no
    poleiro, o papagaio ficava com os olhos iluminados como se enxergasse algum tesouro perdido
    de um pirata.

  • Deixaremos o pássaro escolher – decidiu Frances, a rir-se.
    Ergueu um dedo e o papagaio logo saltou para ele, pondo-se a observar as joias. A grasnar,
    baixou a cabeça e apanhou uma gargantilha de brilhantes amarelos.

  • Amarelo com alperce? – perguntou Cary, a fazer uma careta. – O seu papagaio tem mau
    gosto.
    Contudo, quando a colocou no pescoço de Frances, viram que o tom das pedras fazia
    sobressair de forma perfeita o cinzento-azulado dos olhos risonhos dela.
    Bateram à porta, indicando que a carruagem chegara. O criado entregou uma caixa de veludo
    verde.

  • O cocheiro trouxe-lhe isto, senhora. – Tinha o rosto tão inexpressivo como uma parede. –
    Do rei. Roga-lhe que as use esta noite.
    Frances sentia o coração desenfreado enquanto abria o estojo. Uma fileira das maiores
    pérolas que ela alguma vez vira refulgia, com intensidades de nácar, cativantes e chamativas.
    Quase sentia o calor do seu toque no pescoço.

  • Ainda são maiores do que as da Barbara Castlemaine! – sussurrou Cary, não sem inveja.
    E, sem querer, o comentário de Cary dera-lhe coragem.

  • Pois, mas prefiro a escolha do papagaio.

  • Tem de as usar. Foi o rei que lhas enviou! Usar essas bugigangas amarelas seria visto como
    um insulto grosseiro.

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