Frances pôs as pérolas ao pescoço, desejando que não lhe dessem a sensação de ter a corda
do cadafalso a apertá-la.
- É a rapariga mais estranha que existe, Frances Stuart. Tem um rei a seus pés e trata a
questão como se fosse uma inconveniência.
Frances sorriu, o rosto a iluminar-se de súbito com malícia. - Então que eu tenha o engenho necessário para lhe resistir e, ainda assim, não acabar presa
na Torre! - Ámen – concordou o papagaio enquanto Frances agarrava no lenço e saía.
A distância entre Whitehall e a mansão do duque de Buckingham não era grande e, se não lhe
tivessem enviado uma carruagem, Frances poderia ter ido de liteira. Em vez disso, uma enorme
e pesada carruagem com o brasão de Buckingham na lateral aguardava-a junto ao grande portão. - Boa noite, senhora – cumprimentou o cocheiro.
O duque de Buckingham mudara-se de York House, onde ele e Mall haviam passado a
juventude, para Wallingford, muito mais perto de Whitehall, o que era cómodo. Vivia ali durante
o verão, partindo para as propriedades que tinha no campo durante os meses de inverno. De um
lado, a casa tinha os Jardins da Primavera e, do outro, ficava Charing Cross. O duque
ornamentara-a com quadros magníficos de Rubens, Vermeer e van Dyck. Durante a República,
todas estas obras de arte, bem como muita da mobília sumptuosa, tinham sido saqueadas ou
roubadas, mas George Villiers – à semelhança da prima, Lady Castlemaine – conseguira
recuperar a maior parte, pelo que a casa que Frances visitou era tão impressionante e
ornamentada como sempre fora.
A carruagem avançava pelas ruas empedradas – passando pelo estofador com uma perna de
pau, sentado entre um monte de cadeiras de vime com os assentos a precisar de reparações e
por um vendedor de batedores de tapetes cujo pregão fez sorrir Frances: «Compre um pauzinho
bonito para bater na mulher ou tirar o pó dos tapetes!» – e deixou-a junto à entrada imponente de
Wallingford House.
Ela olhou para as janelas largas, através das quais se via a cintilação de mil velas, e sentiu
um calafrio de apreensão. «Disparate!», disse para si com severidade. «Lembra-te de que és
uma mulher capaz de se comportar.»
A duquesa encontrava-se entre um grupo de pessoas na enorme entrada de chão de xadrez
branco e preto. Frances reconheceu o conde de Bristol, que, presentemente, estava nas boas
graças do rei, a conversar com Lorde Arlington – sempre reconhecível pela pala negra sobre o
nariz, ocultando uma cicatriz obtida na guerra civil – e o conde de Shaftesbury. Atrás destes,
estava sir Charles Berkeley.
Todos se viraram quando ela entrou e ficaram a observá-la com curiosidade, como se
tivessem estado à espera da sua chegada.
Por trás deles, um homem grande como um urso, envolto em seda branca da cabeça aos pés,
ornamentada com folhos, e com uma grande barba farfalhuda, que só poderia ser o embaixador
da Moscóvia, estava embrenhado numa conversa com um cavalheiro alto a quem ela só via as
costas.