Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Já conhece o embaixador, Mistress Stuart? – perguntou-lhe a duquesa.
    Estas palavras fizeram com que o cavalheiro se voltasse muito depressa, e Frances quase
    deixou cair o leque. Era o duque de Richmond.
    Por um instante brevíssimo, os seus olhares cruzaram-se.
    Ela esqueceu onde estava e que eles se encontravam numa sala cheia de convidados. Olhou
    em redor para ver se a esposa da cara feia o acompanhava, mas não havia sinal dela. Na
    verdade, para além dela própria e da duquesa, não havia outras damas presentes, o que dava à
    reunião um aspeto semelhante ao de uma assembleia do Conselho em vez da festa que fora
    prometida.
    Como se a mesma ideia tivesse ocorrido à duquesa, esta fez sinal a um grupo de músicos que
    se encontrava por cima deles, numa varanda, e estes deram início de imediato a uma melodia
    animada com violas-de-gamba e tamborins.

  • Vamos, cavalheiros. – Parecia que a duquesa se recordara do seu papel de anfitriã. –
    Jantemos!
    Seguiram um criado de libré, trajado de veludo azul com o brasão de Buckingham no braço, e
    subiram uma larga escadaria de pedra que levava a uma grande sala de jantar, cujas paredes
    estavam forradas a seda furta-cor verde-escuro, e nas quais vastos espelhos dourados refletiam
    inúmeras velas, criando um efeito similar ao do palco de Drury Lane. Havia também quadros
    nas paredes e Frances deu por si a fitar o rosto altivo e melancólico do rei Carlos I. A mesa
    estava decorada com esmero, não apenas com as habituais bandejas de prata e copos de Veneza,
    mas também com uma enorme jarra de prata, com um javali gravado de um lado e um unicórnio
    do outro; no centro da mesa, pirâmides imensas de frutas e flores, e havia até, a menos de trinta
    centímetros de Frances, um pavão inteiro recheado, com as gloriosas penas da cauda a oscilar
    devido à aragem que provinha de uma janela aberta.
    O lugar atribuído a Frances era ao lado do anfitrião, que tagarelava relembrando os dias em
    que lhe construía castelos de cartas e a fazia rir com as suas imitações de alguns dos presentes.
    Contudo, o olhar dela não deixava de procurar Charles Stuart e, quando o fazia, deparava-se
    com o dele, igualmente fixo nela. Em vez de um sorriso de reconhecimento educado, limitavam-
    se a fitar-se, como se, entre eles, não fossem necessárias palavras.

  • Agora, senhora, prove algumas destas excelentes enguias prateadas.
    O duque de Buckingham ia-lhe enchendo o prato com lagosta, rosbife e pequenas codornizes,
    tudo no espeto, até ela ter de protestar que não poderia comer mais. O seu copo estava sempre a
    ser atestado, como se ali houvesse uma fonte.
    Depois da refeição, retiraram-se para um encantador pavilhão de banquetes, onde tomariam
    doces e sobremesas.

  • Boa noite, Vossa Senhoria – dirigiu-se Frances ao duque de Richmond, quando conseguiu
    escapar ao anfitrião. – Veio de Cobham esta noite?
    O olhar de Charles Stuart continha tanta ternura que ela se viu forçada a desviar o rosto.

  • De momento estou a residir em Londres, para cumprir os meus deveres de gentil-homem da
    câmara.

Free download pdf