- Vossa Majestade – anunciou ele enquanto, espantada, Frances se apercebia de que a luz
provinha de nove ou dez rapazes que empunhavam archotes –, fica o aviso. Temos algumas
visitas inesperadas.
E, da escuridão, com olhos violeta a chispar como uma Fúria libertada do inferno, Barbara
Castlemaine lançou-se ao encontro deles. - O que se passa aqui? – O seu olhar abateu-se sobre Frances, dando conta do colar partido.
Um sorriso espraiou-se-lhe pelo rosto belo mas envelhecido. – Espero que por fim ele a tenha
possuído, senhora, pois não vale um centésimo do sofrimento que lhe tem causado.
Frances viu que o duque se retesava e que a sua mão cingia o punho da espada. Julgaria ele
ser capaz de matar o rei ou a amante? - Confunde a situação, minha senhora. – Frances falava num tom tão usual como se se
dirigisse a um amolador ou a um cantor de rua. – O rei estava apenas a mostrar-me o
alinhamento das estrelas. O meu colar ficou preso no telescópio, nada mais. - É verdade, senhora – chilreou o líder dos rapazinhos com archotes, com um ar solícito,
obviamente esperando que alguma vantagem lhe trouxesse a observação –, eles estavam só a
olhar para o céu, não estavam aos beijos nem nada.
Frances agarrou no tubo e ofereceu-o à rival. - Está interessada em ver a Estrela Polar, Barbara?
Como resposta, Barbara deitou a mão ao telescópio e partiu-o ao meio, estilhaçando a bela
peça de madeira polida no estojo de cabedal dourado. - A rainha também está aqui, Majestade.
- Deus do Céu, como é que ela soube desta noite? – Virou-se para Barbara. – Ou a senhora?
Barbara resfolegou. - Foi a querida Mall que nos disse. Enviou-nos uma mensagem, dizendo que havia um
entretenimento que não deveríamos perder.
Por um momento, parecia que ele seria capaz de enviar Mall de imediato para a Torre;
contudo, com um dos súbitos volte-faces que o caracterizavam, bateu palmas, apercebendo-se
do ridículo supremo da situação. - A minha esposa veio em busca de entretenimento, veio? Então encontrá-lo-á. Vamos,
Richmond. – O rei passou o braço pelo do duque, numa jovialidade aparente. – Procuremos Sua
Senhoria de Buckingham, para que tenhamos música e dança até a madrugada nos mandar para a
cama.
Depois de eles terem saído, Frances baixou-se e começou a apanhar as pérolas, esperando
conseguir acalmar o coração desenfreado. - Houve brincadeira aqui esta noite e eu faço tenção de a decifrar até ao fim – disse Barbara,
quase a cuspir as palavras. – Quantas vidas tem agora, Senhora Virgindade? - Só disponho de uma vida e pretendo vivê-la de acordo com as minhas escolhas.
- Então falhará. Eu fi-lo durante toda a minha vida e isso nada me trouxe se não notoriedade.
- Contudo, desejo fazê-lo e encontrar um bom homem que ame e com quem possa escapar à
vida da corte, indo para onde o ar seja mais puro.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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