- E quem a aceitará... sem dote e desejada pelo rei?
Frances virou a cara e fingiu-se ocupada a procurar as pérolas espalhadas, para que Barbara
não lhe visse a dor nos olhos.
Em Wallingford House, todas as velas tinham sido acesas e o som de jigas e courantes
espraiava-se pelo ar noturno.
O rei fizera questão de partilhar todas as danças com a sua rainha.
Um silêncio incómodo tomou conta da sala quando Frances entrou. Sem dúvida fora o tema
principal de rumores e conjeturas desde que saíra, com os homens a perguntarem-se se o plano
teria resultado e se o rei haveria conseguido o que queria.
Por instantes, ponderou a ideia de os enfrentar, de mãos nas ancas à imagem de uma atriz de
Drury Lane, e anunciar: «Lamento, meus senhores, mas o vosso plano foi gorado pelo duque de
Richmond e um grupo de rapazes com archotes! Que pensam disto?»
Gradualmente, eles começaram a manifestar-lhe o seu desprezo e a virar-lhe as costas,
parecendo que ela poderia tornar-se uma pária social, não por ter sucumbido ao rei, mas, pelo
contrário, por lhe resistir. Vendo o apuro em que Frances se encontrava, a rainha, uns bons
quinze centímetros mais baixa do que ela, sorriu-lhe e chamou-a. - Mistress Stuart, está sozinha. Venha juntar-se ao nosso grupo para dançar um branle.
Frances sorriu-lhe, agradecida, percebendo que se tratava de um ato deliberado, para lhe
restaurar a credibilidade. Juntou-se ao grupo e olhou para baixo, concentrando-se nos seus
passos, evitando assim o olhar do rei. Quando a música terminou, ela fez uma reverência e
pediu licença para se ausentar. - Fique mais um pouco – disse uma voz suave atrás de si. – Não me fará companhia numa
dança, senhora?
Deparou-se com o duque, pronto a dançar.
E assim, pela segunda vez naquela noite, Frances deu por si nos braços de um Charles Stuart,
embora este fosse jovem e solícito, com um olhar alegre e não cínico. Enquanto o rei era alto e
permanecia esbelto por se dedicar a enérgicas partidas de ténis, aquele Charles tinha uma
constituição mais sólida e ela sentia-se como lanugem nos seus braços.
Porém, também ele tinha uma esposa, recordou ela com amargura. - Como vai a sua casa de Cobham? – perguntou ela, para interromper o silêncio que se
instalara entre eles. - Muito bela, com as cores outonais. – A sua voz revelava o afeto profundo que nutria por
aquele lugar. – Espero vir a plantar uma avenida de limeiras. – O tom alterou-se quando disse: –
Mas a minha mulher diz que é uma enorme extravagância e que preferiria usar esse dinheiro
numa estada em Londres.
Frances sentiu a força gelada da realidade. Que sonho infantil estaria a viver, que fantasia a
atrairia para os braços dele? - A sua esposa não sente o mesmo que o senhor pela casa?
- Diz que é como um grande buraco no chão no qual enterramos o nosso dinheiro. Perdão, o
dinheiro dela.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1