sempre a aia mais elegante da sua corte. Para esse efeito, Frances pediu auxílio à sua irmã
Sophia, que dava mais atenção aos estilos de penteados do que ela.
As outras damas de companhia, sobretudo Cary Frazier, não o viram com bons olhos, pois
Sophia era aia da rainha-mãe; Sophia, não obstante, ficou encantada. Chegou de Somerset House
com uma bolsa cheia de ganchos, pentes, ferros e um pequeno braseiro de carvão, que,
declarava, nenhuma dama de Paris abandonaria, tal como os vestidos ou os sapatos de cetim.
Claro que Frances se recordava de que a rainha tinha um barbeiro pessoal – o mesmo sobre o
qual o rei em tempos perguntara que parte do corpo lhe rapava.
As damas portuguesas tinham-se limitado a fazer expressões de desdém e reprovação, sem
dúvida concluindo que o rei não era melhor do que os Ingleses de quem se queixavam, tão
grosseiros que, mesmo no meio de Londres, se encostavam às paredes para se aliviar, ainda que
houvesse senhoras presentes.
Sophia revelou ter um pequeno livro com várias xilogravuras que representavam penteados
diferentes, cujos méritos ela foi explicando a Sua Majestade.
- Eu uso o meu como este aqui: chama-se hurluberlu – e apontava para um penteado que
ostentava uma massa profusa e exuberante de caracóis a partir da nuca. – A Frances prefere
este: um estilo à la négligence ; e Lady Castle... – Parou abruptamente, levando a mão à boca
como uma criança que tivesse invocado o nome do Senhor em vão durante a catequese. - Que estilo elege Lady Castlemaine? – perguntou a rainha num tom calmo.
- Neste momento, opta por prender os caracóis em cima e deixar pender o resto.
De súbito, a rainha sorriu. - Então eu usarei o mesmo. O que é bom para Lady Castlemaine decerto será bom para a
rainha, não vos parece?
As aias fitaram-na, surpreendidas. Não havia ambiguidade no que dizia e o comentário
revelava mais perspicácia e humor do que lhe era habitual. Talvez a rainha estivesse realmente
a aprender a impor-se.
Sophia começou a procurar uma estrutura de arame para prender ao cabelo da rainha, para
que este sobressaísse de lado e depois fosse preso em anéis suaves até aos ombros. - O cabelo de Vossa Majestade é maravilhosamente espesso – gabou.
A pequena rainha corou, com um grande sorriso. Era óbvio que recebia poucos elogios. - Não precisará de caracóis ou madeixas falsos, como os que compram as damas francesas.
- E, para além disso, é escuro – acrescentou Cary Frazier –, o que está muito na moda. Ao
contrário de algumas pobres damas. – Lançou um olhar de relance a Frances, celebremente
loura. – Sabem o que aconteceu a Lady Lauderdale, quando tentou pintar o cabelo ruivo de
preto? – Baixou o tom da voz, pelo que todas perceberam que se seguiria um escândalo
sumarento. – Ensopou o cabelo com uma mistura de lima, alvaiade e pó de ouro que o boticário
lhe vendeu, e teve de deixar a poção durante toda a noite, para na manhã seguinte poder usufruir
dos resultados. - E deu resultado? – perguntou Frances.
- Sem dúvida. De manhã, tinha todo o cabelo negro como a noite. – Cary desmanchou-se a