rir. – Repousava na almofada a seu lado, com todas as madeixas! Ficou completamente careca e
desde então usa peruca. Até na cama, com Sua Senhoria.
- Cary Frazier, não acredito nem numa palavra dessa história disparatada – censurou Lady
Suffolk, camareira-mor e vedora da rainha, que entretanto se juntara ao grupo. - Quem me contou foi a criada que lhe arranja o cabelo – insistiu Cary, parecendo ofendida.
Depois voltou a rir-se. – E agora Lorde Lauderdale também usa a peruca na cama, para lhe fazer
companhia!
Sophia aqueceu os ferros no pequeno braseiro enquanto, com todo o cuidado, fazia um risco
ao meio no cabelo da rainha.
De súbito, um visitante indesejado chamou-lhe a atenção, bem preso à raiz do cabelo. - Majestade, dá-me permissão para que remova um piolho real? – perguntou-lhe.
- Senhora – replicou a rainha alegremente –, isso serão modos respeitosos de descrever o
meu esposo?
Desta vez, todas as damas desataram a rir, até a pretensiosa Lady Suffolk.
Quando Sophia terminou de enrolar o cabelo da rainha nos arames e de dividir as secções
laterais em pequenas fileiras dispostas sobre a testa, culminando com um pequeno caracol, ou
confidante, no meio da testa, a manhã tinha chegado ao fim. Contudo, um novo penteado não era
quanto bastasse para satisfazer a rainha, que se tornara inquieta.
Horas depois, Frances estava ocupada a ajudar Charlotte, Lady Killigrew, na sua tarefa de
cuidar dos vestidos, chapéus, penas, leques e perfumes da rainha. Tinham acabado de colocar
saquinhos de alfazema e arruda seca entre as roupas da soberana, dobrando-as cuidadosamente
entre faixas de cambraia na grande arca, quando a rainha apareceu.
Frances parou de dobrar as roupas, ficando boquiaberta a mirá-la. Catarina de Bragança,
rainha consorte de Carlos II de Inglaterra, que chegara àquelas bandas a usar umas anquinhas tão
grandes e antiquadas que todos se tinham rido dela, encontrava-se diante delas vestida como um
homem! Envergava as calças largas conhecidas como rhinegraves, usadas pelos cavalheiros
mais atrevidos, um casaco de montar ajustado, com folhos no pescoço, e um chapéu de
cavaleiro com um ninho de penas de águia no cimo. - Mistress Stuart. Dizem-me que é a melhor cavaleira entre as minhas aias. – Fez sinal ao
pequeno negro que a seguia para todo o lado. – Dá as roupas a Mistress Stuart, Guiné.
Frances sorriu para o rapazinho e estendeu os braços para receber o fardo. - Depressa! Vá aos seus aposentos mudar de roupa. Vamos partir numa aventura.
Cavalgaremos até Worsley End, onde o objetivo será admirar a paisagem campestre e chocar
alguns dos meus súbditos. Mas, não se preocupe, não nos reconhecerão assim vestidas! - Tem a certeza de que o rei não se oporá a este esquema, Sua Majestade? Três mulheres a
saírem sozinhas, sem serem acompanhadas sequer por criados? – perguntou Frances, alarmada.
Havia um brilho endiabrado nos olhos negros de Catarina. - Ele está perfeitamente satisfeito com a ideia... sobretudo porque nada sabe! E eu proíbo
qualquer das presentes de lhe contar.
Depois de ela ter partido, Frances sussurrou a Lady Killigrew: