velha à janela –, não o tem sobre o tufo de pelos que lhe nasce na cara!
A multidão riu como que se assistisse a um espetáculo improvisado de marionetas.
- E o senhor – perguntou, a apontar para um homem estrábico que se encontrava à frente –,
escolheu ver o mundo assim tão torto?
Sentiu-se agradecida a Deus por lhe ter enviado uma jovem que tinha perdido todos os dentes
da frente. - E a senhora, não preferiria morder um bom bife em vez de sorver pedacinhos de pão
molhados em leite, como uma criança? - Preferiria, jovem senhor, essa é a verdade, mas não pude impedi-los de cair, pareciam
bolotas a tombar de uma árvore!
Por aquela altura, já tinha a audiência na palma da mão. - Digo-vos, amigos, a rainha não tem mais escolha nestas coisas do que vocês. E talvez
devêssemos censurar um pouco o rei nesta questão. - Mas o rei tem uma aljava de bastardos! – contrapôs outro jovem.
- Sim, mas se guardasse as suas flechas para a rainha, talvez acertasse mais vezes no alvo.
O riso foi tão geral que Frances decidiu então voltar a montar o cavalo, com um floreio do
chapéu. - Adeus, boa gente. Vivam o rei e a rainha de Inglaterra!
Para seu grande alívio, a multidão repetiu as suas palavras, até com entusiasmo, enquanto ela
cavalgava para se juntar a Cary e à rainha Catarina. - Frances Stuart – murmurou Cary Frazier quando ela as alcançou, meia milha mais adiante. –
É tão surpreendente como um cesto cheio de cobras.
Frances sorriu, aliviadíssima, pois também ela ficara chocada e assustada com a violência da
reação daquela gente.
A rainha Catarina estava igualmente abalada e o resto da viagem foi passado a acalmá-la e a
assegurar-lhe que não era odiada por todos. - Será melhor que não falemos dos acontecimentos de hoje – murmurou ela a Cary depois de
terem regressado a Whitehall em segurança. – A rainha não tornará a sugerir que nos ausentemos
sem escolta e talvez devêssemos ter sido mais cuidadosas. - Como poderíamos saber que aqueles campónios reconheceriam a rainha e se voltariam
contra ela? – perguntou Cary, num tom irritado. - Foi uma brincadeira louca.
- E foi por isso que ela a quis fazer. Para mostrar que tem espírito e que não é como
Castlemaine, que suga todo o prazer da vida. - Não obstante, sejamos discretas.
Contudo, se a rainha ficou abatida pelo encontro, disfarçou-o bem nos dias que se seguiram,
ocupando o tempo com bailes de máscaras e pescarias e – o que os seus súbditos protestantes
devotos reprovavam – jogos de cartas nos seus aposentos mesmo ao domingo.
Certa noite, foram convidadas para uma grande reunião no pavilhão de banquetes, em honra
do embaixador da Moscóvia e, para grande encanto delas, a rainha declarou que deveriam