envergar trajes russos.
Frances, recordando a noite fatídica em Wallingford House, preferiria não tornar a cruzar-se
com o homem grande como um urso, mas depressa deixou que o entusiasmo, o riso e a
expectativa das outras aias a contagiasse.
- O que vais usar, Frances? – perguntou-lhe a irmã Sophia, invejosa por não ter sido
convidada. - Oh, tenho mais que fazer do que preocupar-me com isso – foi a resposta ríspida de Frances.
Porém, não conseguiu reprimir o sorriso que se seguiu. – Sophy, Sophy, deverei ir toda de
branco, para que ele se lembre das estepes nevadas da Rússia?
Sophia bateu palmas. - Isso seria perfeito. A propósito – acrescentou – tens visto o Walter? Parece que passa o
tempo todo fora de casa. Perguntei à ama onde vai e ela diz que há dois cavalheiros elegantes
que o vão buscar quase todos os dias. Ela ralha-lhe, diz ela, porque eles o mantêm fora de casa
até os pássaros estarem a cantar nas árvores. Sabes quem possam ser? - Não – respondeu Frances, pensativa. – Mas tratarei de descobrir.
- Venha comigo comprar tudo o que precisa para o seu traje – interveio Cary, que tinha estado
a ouvir a conversa das irmãs. – Vou ao Mercado Real comprar sedas para o meu vestido e
depois ao peleiro de Thames Street, junto à tabuleta do White Bear.
Frances sorriu, concordando. Cary sabia sempre onde poderia encontrar os itens mais
recentes, antes de qualquer outra dama da corte. - O que lhe parece esta lustrina prateada? – perguntou-lhe a amiga quando, horas mais tarde,
estavam diante do espelho do comerciante de sedas.
No fim, depois de lhe testar a paciência com intermináveis peças de tecido, Cary deixara o
homem com um sorriso de orelha a orelha ao encomendar-lhe catassol cor de pêssego, rendado
com point de Venise, que ela tencionava completar, em honra da ocasião, com um chapéu de
pele de castor.
Quanto a Frances, optou por comprar veludo branco. - Não será demasiado simples? – perguntou Cary, inclinando a cabeça.
E, contudo, na paragem seguinte, no peleiro, quando viu Frances envolta em veludo branco,
com uma pele de raposa-do-ártico sobre os ombros, assentiu com a cabeça. - Faz-me lembrar uma rainha da neve – sussurrou, admirada.
- Espero que não esteja a pensar numa rainha má, que traz o inverno para gelar as terras do
verão. Talvez possa lançar um feitiço a Lady Castlemaine! - E transformá-la numa bruxa malvada?
- Não, não, transformá-la numa boa mulher.
- Seria realmente necessária magia poderosa para que isso acontecesse!
Ao ver como a sua jovem cliente ficava encantadora com aquela pele e ficar a saber onde
tencionava usá-la, o vendedor reduziu generosamente o preço, com um desconto de três anjos. - Vê – sussurrou Cary –, a magia já está a funcionar!
Quando regressavam com os embrulhos, rindo-se e tagarelando sobre o banquete, Frances