Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

decidiu que em breve faria uma visita a Somerset House, para solicitar à ama que lhe
descrevesse os cavalheiros que tinham adotado Walter. Londres, como todas as metrópoles,
tinha a sua quota parte de batoteiros e vigaristas, bem como várias outras pessoas desagradáveis
capazes de se aproveitar de um jovem inocente, e ela não desejava que Walter lhes caísse nas
garras.


O pavilhão de banquetes, apesar do nome, raramente era usado para banquetes ou festins,
servindo antes de lugar para receções, bailes de máscaras e entretenimento de embaixadores.
Frances poucas vezes havia entrado ali e não deixou de ficar impressionada com as proporções
imponentes do espaço. Tinha sido necessário um mestre como Inigo Jones, inspetor-mor do rei,
para projetar aquela obra-prima. Antes de se juntar à multidão do andar inferior, ficou na
galeria do primeiro andar, entre os londrinos que tinham ido assistir ao espetáculo, admirando
as estriadas pilastras coríntias e os grandes quadrados do soalho de madeira. Levantou a cabeça
para ver a coisa mais famosa daquele lugar: o teto pintado por Rubens, onde se encontrava
representado o falecido rei Carlos, sentado ao lado de Minerva, a empunhar um escudo e um
relâmpago para escorraçar a falsa figura da Rebelião em direção às profundezas flamejantes do
inferno.
Enquanto observava, soaram trombetas em baixo, pois o rei tinha entrado, seguido por um
séquito de cortesãos que atravessavam o palanque coberto por uma passadeira vermelha, para
se sentar num trono dourado. Seguindo com os olhos a figura familiar, um bom palmo mais alta
do que os outros cortesãos, perguntou-se se a memória do seu pai – que partira daquela mesma
galeria, de cabeça bem erguida, para enfrentar a execução – o deixaria perturbado.
Poucos passos atrás do rei, caminhava a rainha Catarina, vestida de cetim azul-claro, solene,
sem revelar sinal das risadas divertidas da escapadela do outro dia.
Frances apressou-se a juntar-se-lhes, esperando que a rainha não tivesse dado pela sua falta
nem precisado dos seus serviços.
Não precisava de se preocupar pois, naquela noite, o embaixador fazia-lhes companhia,
trajado com um gibão de seda roxa, com rosas da mesma cor nos sapatos, como ditava a moda
mais recente, tal como se acabasse de chegar de Paris e não da nevada Moscóvia. Fez uma
vénia profunda diante do rei enquanto uma correnteza de criados iam chegando, com os passos
trôpegos, carregados de peles: de marta e de castor, de lontra e de lobo siberiano, de raposa-
do-ártico e também de arminho; e, a mais prezada de todas, de marta-zibelina de Irkutsk. Por um
momento, parecia que todos os animais do Império Russo se encontravam dispostos ali na Casa
de Banquetes. Depois surgiram alguns tapetes persas, cujas tonalidades âmbar, azul-escura e
rosa-velho eram iluminadas pela luz das velas, revelando as tapeçarias mais belas que Frances
alguma vez vira.



  • E agora uma pequena curiosidade, muito procurada no nosso país. – O embaixador mostrou
    um pequeno estojo ornado com joias, que abriu diante dos olhos fascinados da corte. – Dentes
    de cavalo-marinho!

  • Agradeço-lhe, senhor, pela sua grande generosidade – disse o rei.

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