quando ansiara ser beijada, e sabendo que a mãe, tão reprovadora, seria a última pessoa na
terra de Deus a quem poderia fazer perguntas sobre isso.
- Reparem, já passaram cinco anos desde a última vez que nos vimos! Acham que vai
reconhecer-me? – perguntava Henriqueta num tom tímido, encantada por todos lhe dizerem que
ela se transformara numa jovem encantadora.
Então, Mall bateu palmas. - Tive uma ideia muitíssimo divertida. Vamos pregar-lhe uma partida!
Mall era famosa pelas suas partidas, mas nenhuma delas estava segura de querer participar.
No entanto, quando Henriqueta se riu e acolheu o plano de bom grado, não tiveram outra
alternativa que não fosse concordarem com a ideia estouvada. - Frances! – Mall agarrou-a pelos cotovelos e puxou-a bruscamente para ela ficar diante da
grande lareira que, ocasião rara, estava cheia de lenha a arder. – É quase da mesma idade que
Sua Alteza. Vai passar por ela. - Sou três anos mais nova – protestou Frances.
- Bem, continua a ser, de todas nós, quem tem a idade mais próxima da de Sua Alteza.
- Mas tenho mais doze centímetros do que ela!
Mall pareceu ficar muito impressionada com aquele argumento. - Ficará sentada, então.
Atrás delas encontrava-se uma banqueta de madeira trabalhada, dentro de uma alcova, junto a
uma tapeçaria desgastada que representava David e Betsabé, semioculta por uma cortina puída. - É o local ideal!
Mall bateu palmas, encantada, e puxou a banqueta para a frente. - Mas não posso ficar sentada quando Sua Alteza chegar – reclamou Frances. – Isso seria
transgredir todas as regras da precedência. - Ora! O príncipe é o homem menos cerimonioso que conheço.
Frances sentou-se na banqueta e, muito nervosa, ajeitou o vestido, enquanto pensava como
seria o príncipe Carlos.
Teria conseguido manter o ânimo e a fé durante o seu longo exílio? Muitos homens em tais
circunstâncias cederiam aos apelos do desespero.
Não havia mais tempo para tais pensamentos, pois o príncipe Carlos de Inglaterra entrou com
passadas largas no aposento, um sorriso expectante a iluminar-lhe as feições longas e esbeltas.
Se se tratasse da sua própria corte, haveria trombeteiros e músicos a anunciar-lhe a chegada.
Sendo assim, só o anão da rainha bradava que o príncipe ali estava.
A primeira impressão que Frances teve foi a de que o nosso príncipe parecia mais espanhol
ou italiano do que filho da velha Inglaterra. Sobrancelhas negras e um bigode fino quase da cor
de asa de corvo, a pele tisnada, sem a palidez leitosa do berço inglês, antes com o tom moreno
de um clima longínquo torrado pelo sol, juntamente com o cabelo negro e espesso que lhe
chegava aos ombros, davam-lhe um ar estrangeiro e exótico.
Ei-lo, o «rapaz negro» nascido quando Vénus se mantinha bem alto no céu ao meio-dia – um
facto estranho interpretado por todos como um sinal de um futuro auspicioso quando, ao invés,