Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Capítulo 13


Durante semanas, a rainha Catarina oscilou entre a vida e a morte e, no exterior do seu quarto
de doente, tanto a corte como o país continuavam a especular sobre quem lhe sucederia.
Certa noite de outubro, houve uma tempestade tão violenta que Frances acordou. Por baixo da
sua janela, no ancoradouro junto às escadas privadas, os barcos entrechocavam-se e as ondas
estavam mais altas e enfurecidas do que ela alguma vez vira no Canal. Continuou a observar,
aterrorizada, e deparou-se com a visão mais estranha da sua vida. Havia uma coruja no seu
parapeito e, perante o seu olhar, a ave voltou a cabeça, os seus grandes olhos fitaram-na, com o
corpo ainda virado para a frente.
Frances ficou sem ar. Toda a gente sabia que as corujas eram presságios de morte. Com a
certeza absoluta de que a rainha morrera, caiu de joelhos e rogou a Deus que a sua alma fosse
para o céu.



  • Por favor, Pai do Céu – rezou, ciente do peso da expectativa da rainha-mãe, da sua mãe e
    do próprio rei que recairia sobre os seus ombros se a rainha deveras tivesse morrido –, não
    desejo ser rainha de Inglaterra, juro por tudo o que é sagrado.
    Como que em resposta à sua prece, e contrariando todas as expectativas, a rainha começou a
    recuperar.
    As vertigens desapareceram e o grande tumulto e a perturbação cerebral diminuíram até que,


ao fim de três semanas de febre, se sentou e pediu a Lady Suffolk, em português, marmelada^15 ,
que a governanta se apressou a traduzir, para gáudio do rei, que logo deu ordens ao jardineiro
principal para que procurasse marmelos, não obstante o mês de novembro estar quase a surgir.



  • É um milagre! – exclamou a governanta. – A touca de relíquias salvou a rainha.
    Mas Catarina não queria ouvir tal coisa.

  • Não é à touca de relíquias que devo a minha salvação – corrigiu com aspereza –, mas às
    preces do meu marido.
    No exterior do quarto, as suas aias suspiravam de alívio.

  • Já ouviu o que o malandro do conde de Grammond anda a dizer? – comentou Mall num
    sussurro quando ela e Frances saíam da capela, onde tinham ido agradecer a Deus a
    recuperação da rainha. – Que nunca se deve seguir os impulsos nobres. Quando achou que a
    rainha estava a morrer, o rei disse-lhe que tinha de viver por ele. E foi isso que aconteceu. Por

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