Cara Mistress Stuart,
Encontrei o poeta Edmund Waller, que estava a escrever os versos aqui inclusos
dedicados à recuperação da rainha. Envio-lhos porque também eu festejo a recuperação
da rainha, mas por um motivo bem diferente, que me parece não terá muita dificuldade
em adivinhar.
Mall começou a ler os versos, numa voz profunda e afetada que não teria envergonhado um
palco londrino.
Aquele que não houve de lamentar
A perda de tantos reinos
Cujas lágrimas teve para ti reservadas as mais doces,
Mais queridas que todos os reinos!
Pois quando nenhuma arte curativa vencia,
Quando licores e elixires fracassavam,
Na sua face pálida ele deixou o orvalho cair
Que a revigorou como uma flor seca de novo a florir.^16
- Que comovente – disse Mall a sorrir. – Este Waller deveria ser fuzilado pelas rimas
execráveis. Escreveu um panegírico melhor para o Cromwell do que para o rei, lembra-se? Mas
que surpresa o duque meu sobrinho, que tantos aqui julgam ser um jogador e um beberrão, além
de idiota, tenha um coração tão romântico. - Ele não é idiota! – Frances agarrou na carta e rasgou-a ao meio. – Embora não perceba que
lhe importa que a rainha se cure e eu não vá substituí-la, se já tem uma esposa. - Tolo Charlie – comentou o papagaio.
- Já chega – ralhou Frances, cobrindo a gaiola com um pano, sob os protestos do pássaro. –
Está na altura de eu te ignorar e ao teu senhor!
Walter Stuart, alheio à intensa especulação que havia rodeado a irmã, estava ansioso por ir
visitar o Beargarden^17 em Bankside com os seus dois novos amigos. Não sabia bem porque se
mostravam eles tão ávidos por lhe mostrarem Londres e lhe oferecerem bebidas e comida em
metade das cervejarias e tabernas de Drury Lane, mas estava bastante disposto a acreditar no
que lhe diziam.
- Quando se ama uma cidade, é como se ela fosse uma mulher – gabou-se Lorde Rochester. –
Queremos que os nossos amigos desfrutem dela tanto quanto nós!
Walter ainda não desfrutara de mulher alguma, mas admirava muito aquela conversa picante.
Ouvira dizer que o conde era famoso pelos seus ditos espirituosos e estava resolvido a rir-se de
tudo o que ele dissesse, mesmo que se limitasse a chamar uma carruagem.
Na verdade, Rochester começava a apreciar bastante o rapaz e tivera de ser recordado pelo
conde de Grammont de que a intenção fora espicaçar a piedosa irmã dele, e não incluí-lo no