Para surpresa de Frances, Mall aguardava-a nos seus aposentos. Desta vez, não era para lhe
ler cartas privadas nem para a dissuadir do afeto sem esperança que votava ao duque de
Richmond, mas por dispor de algumas novidades que lhe diziam respeito.
Bastou um olhar de relance para que Frances percebesse tudo. Havia boas novas sobre Tom
Howard.
- Foi perdoado! Alguns dos oficiais da guarda intervieram junto do rei para lhe permitirem
regressar. E até Sua Majestade concorda que a escadaria do rei é um lugar bem mais enfadonho
sem o Tom Howard, sem a sua grande beleza morena... - Mall – interrompeu Frances –, o rei não terá dito tal coisa!
- Não – riu ela –, são as minhas próprias memórias que me acorrem à ideia. – O sorriso
abandonou-lhe o rosto tão depressa quanto nuvens de tempestade a ocultar o sol. – Oh, Frances,
que Deus me ajude, pensar que eu cheguei a considerar ajudar o rei a entrar na sua cama em
troca do perdão do Tom! Ele implorou-me e rogou-me que a persuadisse, mas eu não fui capaz.
Disse-lhe que faria o que quer que ele me pedisse, exceto isso. E lembre-se, fui eu quem
informei a rainha e a Lady dos planos do meu irmão, para que elas fossem à casa dele e os
gorassem.
Frances condoeu-se. - É verdade, embora o duque de Richmond os tenha gorado primeiro. Que mundo é este em
que vivemos, Mall? - Um mundo estranho. Mas temos o afeto que nos une.
- Que nunca percamos isso.
- Uma coisa, Frances, desejo manter esta questão do meu relacionamento com o Tom Howard
em segredo. Caso contrário, o meu irmão irá sabotá-lo. - Mas já há quem saiba. Intercedeu por ele junto do rei, recorda-se? E guardar um segredo
em Whitehall é como apanhar gotas de chuva com uma rede. - Frances... – De súbito, Mall parecia uma jovem numa manhã soalheira de maio. – Temos
planos para nos casarmos.
Frances abriu a boca e depois tentou disfarçar o espanto. A ideia de Mall desposar um
homem com metade da idade dela parecia realmente escandalosa. - Desejo que seja feliz.
- Sim. – Mall lançou-lhe um olhar alegre, como se lhe lesse os pensamentos. Voltava a ser a
maria-rapaz que trepava as árvores e a quem chamavam Borboleta. – E ele, ainda por cima, é
papista, e só tem aquilo que aufere ao serviço do rei. Para além disso, tem uma mãe que adora e
que é capaz de não agradecer aos céus por ganhar uma nora como eu. - Pensa que é por isso que... – Frances interrompeu-se.
- Que ele gosta de uma velhota como eu? Por lhe fazer lembrar a mãe? – Mall resfolegou. –
Então espero que ele não faça à mãe o que me faz a mim!
E piscou o olho declaradamente. Frances escondeu o rosto atrás das mãos. - É uma mulher perversa, Mary Villiers!
- Pois sou – concordou Mall, ainda a sorrir –, mas adoro o meu Tom Nortenho.