- Fala dele como se fosse um gato!
- Sim, e dar-lhe-ei natas – disse ela, como se ronronasse.
- Porque lhe chamam Tom Nortenho?
- Há outro Tom Howard, só que é velho e enrugado, não como o meu.
- E quando voltará a casa, o seu Tom Nortenho?
- Já partiu de França. – De súbito, parecia ansiosa. – Oh, Frances, espero que ainda me ame,
pois teremos de nos haver com o meu irmão e a mãe dele, e nenhum deles quererá este enlace,
tenho a certeza.
E, contudo, foi de outro enlace completamente diferente que o irmão de Mall se foi queixar no
dia seguinte.
Mall encontrava-se nos seus aposentos a ler poesia amorosa com a filha Mary, que em breve
também ficaria noiva, quando George Villiers, segundo duque de Buckingham, intriguista
inveterado e homem de confiança do rei, entrou sem cerimónia, com a peruca loura torta e o
nariz vermelho, fosse de cólera ou de demasiada cerveja ao desjejum. - Irmã! – bradou. – Estive na companhia daquele idiota moralista, o Ormonde, que me diz que
o filho dele está comprometido com a tua filha. Como pode isso ser, se o Ormonde é meu
inimigo jurado e faz tudo o que pode para frustrar os meus planos de progresso na Irlanda?! - Não são os teus interesses que eu procuro promover, mas sim os da Mary – replicou Mall,
tão calma quanto ele estava irado. – O Richard Arran é um jovem estável e, para mais, ela será
condessa. - Então é verdade! Vais mandá-la viver no lodaçal da Irlanda, entre selvagens, sem qualquer
cultura para além de dançar a jiga em antros para se entreterem!
Mary, de treze anos, olhava nervosamente ora para o tio, ora para a mãe. - Decerto não será assim, mãe?
- O teu tio exagera só porque não lhe convém.
- Não me convém?! – berrou o duque. Frances temeu que o nariz violentamente vermelho
explodisse, tal era a fúria. – O Ormonde atreve-se a enviar-me uma nota a sugerir que, dado que
ao fim de sete anos o meu casamento «não resultou em quaisquer filhos», todas as propriedades
dos Villiers deveriam passar para a tua filha Mary. Tens de o mandar dar uma volta, a ele e ao
filho!
O duque deveria conhecer melhor a irmã. - Permites-me que te recorde, irmão, que enviuvei duas vezes e desde então tive de forjar o
meu próprio caminho? Desejo que a Mary tenha uma vida confortável e, se é do outro lado do
mar e a trezentas milhas da corte, melhor ainda!
A boca do duque de Buckingham fechou-se como a de um peixe irado e ele deixou-as. - Com mil demónios! – Mall abanou a cabeça. – Não sabia que o Ormonde tinha escrito essa
carta. Não foi a atitude mais sensata a tomar com o meu irmão. – Um sorriso travesso bailou-lhe
nos lábios. – E lembrá-lo de que ele e a duquesa não têm descendência...! O mais provável é
que vá a correr até ao quarto da mulher e tente já fazer um herdeiro. - Mãe – interrompeu-a a filha, num tom insatisfeito. – O que o tio disse é verdade? A Irlanda
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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