comportar-se como uma maria-rapaz sem sofrer consequências.
Todavia, nunca tinha visto Mall, a pusilânime.
Deparada com a perspetiva de conhecer a querida mãe de Tom Howard, foi naquela triste
condição que Frances a encontrou.
- Ele fala dela como se fosse mais uma amiga do que uma mãe, uma amiga prezada –
lastimava-se Mall. – Descreve-a como o modelo ideal, educada, perfeita senhora do seu
castelo, que gere as terras, disciplina os criados e cuja conversa é afamada por todo o condado. - Então – tranquilizou-a Frances –, não há mulheres sem defeitos deste lado do paraíso.
- E sabe o que é pior? – perguntou-lhe a amiga num tom desconsolado. – Chama-se Mall!
Antes de se casar era Mall Eure, e nunca foi Mary. Vem comigo e acompanha-me neste
calvário?
Frances concordou, desejando fazer tudo o que pudesse para ajudar a sua amiga e defensora,
sentindo-se também curiosa por conhecer aquele brilhante modelo de mulher.
Mall vestiu-se cuidadosamente, envergando o seu terceiro melhor traje, pois queria dar a
impressão de ser uma grande dama, ainda que modesta e casta.
Juntas, requisitaram os serviços de uma carruagem que as levasse a St. Martin’s Field, onde
os Howard tinham a sua casa londrina. - O Tom não virá connosco?
- Já lá está desde manhã cedo – disse Mall, inspirando profundamente quando se apearam
diante de uma bela casa rodeada de terrenos ajardinados.
Se as duas mulheres esperavam uma matrona simples e com um ar caseiro, estavam
condenadas a uma surpresa. Lady Mary Howard estava vestida, dos sapatos ao xaile, de
vermelho-sangue, envergando um traje surpreendentemente elegante. O seu cabelo escuro
apresentava laivos de grisalho nas têmporas e fora puxado para trás e apanhado num estilo mais
severo do que o habitual entre as damas da corte. Era quase tão alta quanto Frances, tinha uns
belos olhos azuis e uma fronte que denotava inteligência. A única coisa que a distinguia das
senhoras de Londres era a pureza da pele, que não fora tocada, quer por fuligem quer por
varíola, e também não era ornamentada com moscas ou sinais.
O filho encontrava-se a seu lado com uma expressão hesitante no rosto bonito, como se
receasse que uma erupção vulcânica pudesse ser o resultado daquela reunião.
De repente, ele deu-se conta de que existia uma questão delicada de precedência. O rei
permitira a Mall Villiers que mantivesse o título após a morte do marido, pelo que ela ainda era
duquesa de Richmond e, por conseguinte, detinha um estatuto mais elevado do que uma mera
esposa de um baronete.
Ignorando tais pormenores, Mall apressou-se a fazer uma vénia. - O seu filho tem-me falado muito bem de Vossa Senhoria.
- Ai, sim? – ripostou a mãe de Tom, num tom sadio. – E eu sempre simpatizei com a sua
pobre mãe. Já seria suficientemente mau perder o marido para outra mulher. Mas que ele fosse o
favorito do rei! - Mãe... – interrompeu Tom. – Tenha presente que o duque de Buckingham foi assassinado.