uma taça de vinho. Outra coisa negada aos meus homens durante demasiado tempo. – Pela
primeira vez, reparou no vestido festivo que Henriqueta escolhera para o receber. – O dourado
fica-te bem, irmã, ficas um pouco parecida com uma gata que tive em tempos, cujo passatempo
preferido era desfazer-me a faixa da cintura. – Riu-se alegremente. – Realmente, és parecida
com ela. Doravante, hei de chamar-te Minette, bichana, em sua homenagem.
Todos se juntaram aos risos, que muita falta faziam. Nenhum deles alguma vez vira
Henriqueta tão animada como naquele dia.
- Obrigada, senhor. – Fez uma cortesia, baixando-se muito, e escondeu as covinhas do rosto
atrás de um leque bonito. – O vestido que tanto admiras tem uma história interessante. - E que história é essa, conta-me, bichana?
- A minha ama astuta fê-lo com as cortinas velhas da minha cama.
Uma sombra insinuou-se nas feições morenas de Carlos, como uma nuvem a passar sobre uma
colina soalheira. - Deveras, chegou a esse ponto? – Abanou a cabeça com tristeza. E depois, dada a sua
disposição otimista, livrou-se da expressão triste. – Fica-te bem, seja como for. - Vejo que causou boa impressão a Sua Alteza – brincou Mall depois de o príncipe partir
para ir cumprimentar o primo Luís, enquanto elas caminhavam ao encontro dos filhos dela,
Esme e Mary, antes de a ama lhes cantar para os adormecer.
Ela corou, em busca de coragem para abordar temas íntimos com Mall. - Mall – começou, de súbito muito envergonhada. – Teve dois maridos, o primeiro quando
era ainda mais nova do que eu. Alguma vez sentiu uma agitação estranha... – procurou as
palavras certas – ... alguma vez o seu corpo reagiu ao olhar de uma pessoa como se pairasse e
cantasse?
Mall desatou a rir e em seguida, arrependendo-se da ligeireza com que tratara um momento
de tanto candura, fez um esforço para ficar séria. - Normalmente é preciso mais do que um olhar! E é Sua Alteza quem causa essas ondas que
agitam o seu porto calmo? Vi que falou consigo como se apenas os dois existissem neste mundo
imenso.
Frances abanou a cabeça. - Não, não é ele, trata-se de outra pessoa. Na verdade, gostava de lhe perguntar quem poderá
ser esse cavalheiro, já que ninguém vem à corte sem que a Mall saiba tudo a seu respeito, do
chapéu às esporas. - Descreva-me esse modelo de perfeição.
Frances sorriu. - É alto, com o cabelo quase tão brilhante como o sol poente no inverno.
- Abençoado seja o Senhor, eu também já me apaixonei por ele... Não lhe deu pista alguma
quanto ao seu nome, então? - Mamã! Mamã! – Mary, de nove anos, correu para a mãe, quase a explodir de entusiasmo. –
O príncipe Carlos diz que me leva a montar o grande cavalo branco dele e que eu vou ser maior
do que qualquer rainha da Europa!