mundo delas e o rei e a corte o seu pináculo mais elevado.
- Vamos – instou Mall com um grande sorriso. – Se formos agora, chegaremos a Whitehall
antes de a corte ter sequer despertado. O rei estará a jogar ténis, com os ministros à espera dele
ao lado da quadra, tentando interessá-lo nos afazeres do dia, enquanto ele dará mais atenção aos
seus spaniels! Ninguém saberá que aqui estivemos.
Porém, quanto a isso enganavam-se.
Em Londres, a história do duelo gorado já era sussurrado por trás de leques elaboradamente
pintados e havia cavalheiros com longas perucas encaracoladas a rirem-se do assunto.
Lady Shrewsbury, ao que parecia, não era mais gentil para com os seus criados do que para
com os amantes que descartava, pelo que foi com muito gosto que aqueles espalharam o rumor
da verdadeira causa da sua indisposição.
Mall, entretanto, refletira e concluíra que, para atingir os seus fins, teria de deixar de ser a
louca Borboleta, que saltava de uma situação imprópria para um duelo escandaloso e que, ao
invés, deveria ser virtuosa e modesta – uma tarefa árdua para qualquer membro do excêntrico
clã Villiers.
Com esse objetivo, antes do jantar, mudou de roupa e optou pelo vestido mais discreto que
tinha, de tafetá amarelo-claro, cujo forro de algodão reforçado mais do que lhe protegia a
modéstia. Mirou-se ao espelho, satisfeita. - Valha-me Deus, podia ser uma freira! – murmurou e logo foi em busca de Tom e da mãe
deste, que jantavam com a corte na grande sala de jantar.
Ficou à entrada da sala, entre os criados atarefados que levavam pratos e jarros, tentando
divisar Tom naquele espaço apinhado. Havia cortesãos a ocupar três grandes mesas voltadas
para o palanque onde o rei e a rainha se sentavam, acompanhados pelos nobres de mais alta
linhagem. Mais acima, na galeria, súbditos de Sua Majestade juntavam-se apenas para observar
o casal real a jantar.
Por fim, descobriu-o. A precedência ditava que ela deveria sentar-se à mesa das damas de
companhia, mas ela desejava trocar pelo menos uma palavra e uma saudação com Tom.
E, então, aconteceu uma coisa curiosa. Um sussurro percorreu a sala como se fosse o zumbido
de um grande enxame de abelhas subitamente libertado da colmeia. Depois alguém na mesa mais
distante começou a aplaudir, e Mall, estupefacta, percebeu que o aplauso lhe era dirigido, pelo
que não teve alternativa senão reconhecê-lo com um aceno de cabeça, como se de uma rainha se
tratasse.
Não obstante, aproximou-se de Tom e da mãe deste sentindo-se muito nervosa, pois sabia que
poderia ser recebida com uma manifestação fria de reprovação. - Então – perguntou Lady Howard num tom severo –, que história indigna é esta que ouvimos
acerca de damas a desafiarem-se num duelo? E para defender a honra do Tom! Não será ele
capaz de a defender por si mesmo, será necessário que uma mulher o faça por ele? - Minha senhora – começou Mall, pronta a desfazer-se em desculpas.
- Silêncio! – ordenou a formidável matrona, levantando-se. – Nunca gostei dessa Talbot, nem
da mãe dela. E sabe o que eu disse ao Tom? «Quem mais é que conheces capaz de uma ação tão