estouvada como esta?» E que respondeste tu, Tom?
- Que só me ocorria uma dama capaz de se comportar de forma tão escandalosamente
imprópria. – Tom Howard, com os olhos límpidos e azuis como o céu no verão, começou a
sorrir. – E que essa dama era a senhora, minha mãe.
Agora que fora aceite pela franca Lady Howard, Mall dedicou-se a conquistar ainda mais a
mãe do seu amado, levando-a a passear a Hyde Park, às compras nas arcadas novas, a adquirir
perfumes nos melhores boticários e a ir ao Teatro. A pedido de Frances, levaram Walter a
acompanhá-las. Decidiram ir ver A Rainha Índia, uma tragédia em verso heroico, em cena no
teatro de Mister Killigrew, em Vere Street.
O gosto de Mall tendia mais para as comédias de Mister Etherege do que para a tragédia mas,
ainda assim, ficou fascinada com os magníficos artifícios cénicos, as batalhas e os sacrifícios
encenados e com o canto de espíritos que a peça oferecia. Beck Marshall, esplêndida na sua
interpretação da rainha Zempoalla, envergava um vestido índio feito de penas autênticas.
Compraram pequenas laranjas doces às raparigas que as vendiam e Mall chamou a atenção para
as personalidades de má reputação, desde Nell Gwyn, conhecida como «Menina das
Laranjas»^20 , até Lady Castlemaine. Barbara encontrava-se num camarote à direita do deles,
muito pouco vestida, refrescando-se com um leque feito de pele de galinha pintada e penas
azuis-claras.
Para horror de Frances, começou a lançar olhares provocadores a Walter.
- Será que não tem vergonha? – insurgiu-se. – O meu irmão mal fez dezasseis anos! Ela deve
ser dez anos mais velha do que ele!
Assim que o disse, lembrou-se de que a diferença de idades entre Mall e Tom era bem maior.
Mas Mall não ficou ofendida. - Dizem que levou o duque de Monmouth para a cama, o filho ilegítimo do rei, quando ele
tinha apenas quinze anos – sussurrou Mall muito baixinho para que Walter não ouvisse.
Frances mordeu o lábio, dividida entre o choque que lhe dava vontade de rir e o desejo de
proteger o irmão. Felizmente, parecia que Walter nada ouvira.
Três filas abaixo deles, o desbragado Lorde Rochester recostava-se no seu camarote. - Ele deseja a amiga de Frances, Lizzy Mallett – confidenciou Mall a Lady Howard, que
muito apreciava os mexericos da corte. - E ainda mais a fortuna dela – comentou Frances com azedume, pensando na ironia da
importância do dinheiro. – Coitada da Lizzy! É lindíssima, mas é sempre lembrada pela fortuna
que detém.
Aperceberam-se de que Lorde Rochester lhes acenava ou, em particular, a Walter, que virara
o rosto para o outro lado como se a sua vida dependesse disso. - Walter – perguntou Frances, intrigada –, porque estará aquele homem desprezível a tentar
chamar a tua atenção?
Walter ficou profundamente aliviado quando Mister Dryden, o célebre dramaturgo, com uma
peruca muito cómica, e duas pontas salientes que pareciam cornos do diabo, parou para trocar