- E a sua filha Mary?
- A Mary opõe-se à nossa união – admitiu Mall com tristeza.
- E o resto dos vossos familiares?
Ambas sabiam que se referia à mãe de Tom. - Considerámos que seria melhor não os convidar. Será mais simples que aceitem o facto
depois de consumado. - Estou tão feliz por si! – exclamou Frances. – Mas porque não se casam na capela da rainha?
- Na igreja de St. James não precisamos que os banhos sejam anunciados e que toda a gente
fique a saber da nossa união... sobretudo o meu irmão, que iria direito ao rei, queixando-se de
que o grande nome dos Villiers está a ser arrastado pela lama em virtude deste enlace
desventurado.
Tomou a mão de Frances nas suas. - O Tom diz que quando deixar a vida de soldado se tornará vigário em St. James. Celebram
dois mil casamentos por ano, numa paróquia que só tem cento e sessenta lares. Imagine o lucro!
Ainda que a maioria seja por a noiva ser menor de idade e não ter permissão dos pais.
Frances absteve-se de comentar que eles não teriam esse problema.
O dia amanheceu cinzento e encoberto. O solstício de inverno aproximava-se e parecia que o
sol não queria levantar-se, nem sequer para celebrar as núpcias de Mall e Tom.
O pequeno grupo, dizendo piadas para levantar o ânimo, dirigiu-se para Aldgate em duas
carruagens. A igreja era um grande edifício de tijolo, sem nada que indicasse atividades ilegais,
com três enormes janelas e uma bela torre com um catavento.
Uma jovem que se encontrava a tirar água de um poço ali perto desejou-lhes boa sorte, o que
animou Mall, que sentia precisar de ser animada.
Já dentro da igreja, o casamento não começou bem.
O pastor julgou que Mary Lewis seria a noiva e mostrou-se algo chocado quando foi Mall
quem subiu para o altar.
E, no momento em que os votos iam ser proferidos, houve uma grande comoção ao fundo da
igreja. Todos se viraram e viram Lady Mary Howard, num fato de montar vermelho enlameado,
exigindo ao sacristão que a deixasse entrar.
- Ela poderá impedir-nos agora? – perguntou a corajosa Mall, cuja valentia a abandonava.
Tom apertou-lhe a mão com força. - Eu não deixaria que o fizesse!
- Veio opor-se a este enlace, madame? – perguntou o vigário num tom esperançoso.
Obviamente, na sua opinião, aquilo ia contra as leis de Deus e da Natureza.
Lady Mary Howard lançou o seu corpo bastante volumoso em direção ao altar. - Opor-me? – repetiu ela. – Acabei de cavalgar quase trezentas milhas para lhes dar a minha
bênção!
Frances, Mary e os padrinhos do noivo aclamaram e foi um grupo feliz o que emergiu da
igreja, deparando-se com uma grande multidão de pobres esfarrapados que esperavam os