Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

noivos, chamados pela jovem do poço.



  • Cuidado, minha senhora – aconselhou o vigário. – Têm o costume de seguir o casal até casa
    e fazer grande algazarra à porta do quarto enquanto os noivos se deitam, até lhes pagarem para
    se irem embora. – Fez uma pausa, observando uma vez mais o casal improvável e voltando a
    sentir desconfiança quanto à estranheza daquela união. – Irão deitar-se, presumo. É necessário,
    sabem, para que o casamento seja consumado.

  • Não se preocupe com essa questão, reverendo – ripostou Lady Mary Howard, tão alto que
    metade de Londres poderia ouvi-la. – Pois estou em crer que a consumação já está tratada.
    Tom atirou uma mão-cheia de moedas à multidão e o cortejo nupcial partiu logo que pôde,
    evitando assim quaisquer altercações pouco nobres do lado de fora do quarto do casal.
    Depois dirigiram-se para a estalagem Three Nuns em Aldgate Street, afamada pela qualidade
    rara do ponche que servia, onde noiva e noivo foram alvos de brindes que lhes desejavam uma
    vida longa e cheia de amor juntos.
    À medida que a carruagem levava Frances e Mary de volta a Whitehall, nessa noite, tentou
    não imaginar o quarto no piso superior daquela estalagem onde Mall e Tom passariam a noite de
    núpcias. E, apesar de tentar não pensar nisso, a imagem de Tom, jovem, forte e bonito,
    aproximando-se da sua esposa e desapertando-lhe o vestido, primeiro com delicadeza e depois
    com uma paixão mais desenfreada, beijando-lhe os ombros e passando a mão por dentro da seda
    do camiseiro dela, fez com que a sua pulsação acelerasse.
    Foi chamada de volta à terra por Mary, que lhe deu uma pequena cotovelada para lhe dizer
    que o cocheiro tinha dito qualquer coisa.

  • Não passarei perto de Drury Lane, senhora, por causa da enfermidade que grassa por lá.
    Frances assentiu com a cabeça, recordando-se do que ouvira.
    Assim, enquanto seguiam pela paróquia de St. Giles in the Fields, Frances viu que duas casas
    estavam a ser entaipadas e trancadas, enquanto um bailio pregava um papel e pintava uma
    grande cruz vermelha na porta e as palavras aterradoras «Senhor, Tem Piedade de Nós».
    Quando a carruagem passou, ouviram os rogos gritados pelos moradores da casa, abafados e
    desesperados, como se estivessem num navio que se afundasse nas profundezas do mar.
    Era quase um alívio ver que a corte se dedicava às habituais ocupações fúteis. Quando se
    juntaram às outras para cear, Cary Frazier e Catherine Boynton discutiam quem deveria
    acompanhar a rainha nos seus aposentos durante as preces noturnas.

  • Nenhuma delas quer ir – sussurrou Mary Lewis, que compreendera o funcionamento de
    Whitehall mais depressa do que um cão de caça aprende a ir buscar uma perdiz. – Mistress
    Frazer porque detesta o tempo que a rainha demora a contar as contas do seu rosário; Mistress
    Boynton porque espera ver o amante.
    Era espantoso que Mary percebesse tanto. Quando Frances lhe perguntou como sabia tanto
    acerca da corte, a rapariga sorriu e respondeu:

  • Como sou pequena e simples, é como se fosse uma peça de mobília. Não prestam mais
    atenção à minha presença do que se eu fosse uma mesa desdobrável ou uma cadeira de carvalho.

  • Quando, na verdade – comentou Frances –, é muitíssimo astuta, mais inteligente do que

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